segunda-feira, junho 29, 2020

(DIM) A astuta noviça de Salzburgo


Quando lhe encomendaram a adaptação cinematográfica de Música no Coração, Robert Wise não terá sentido grande entusiasmo: se cinco anos antes o seu West Side Story saíra da cerimónia dos Óscares com dez estatuetas não compreendia que lhe dessem a tarefa só porque ambos os filmes coincidiriam em números cantados e dançados. A história da família von Trapp parecia-lhe demasiado piegas para merecer tão opulento projeto.
O resultado foi o que se viu: algo que um conhecido crítico apontaria como exemplo paradigmático do filme pornográfico, porque tinha o argumento segmentado em partes distintas, cada uma trabalhada de forma a promover a tensão preparatória do climax, o orgasmo correspondente às mais conhecidas canções entoadas por Julie Andrews e os sete pimpolhos e pimpolhas.
O filme teria um razoável sucesso comercial, Wise voltou a levar nova estatueta para casa e houve quem clamasse pela injustiça de Julie Christie ter surripiado idêntica distinção à canora rival, graças ao desempenho em Darling de John Schlesinger.
Mais de meio século passado, Salzburgo vale-se turisticamente das suas minas de sal, de ali ter nascido Wolfgang Amadeus Mozart e do golpe publicitário de milhões conhecerem o Jardim Mirabell graças à sequência aí rodada com a arguta ex-freira quando se preparava para aproveitar-se das inocentes criancinhas até conseguir meter na cama o capitão, que lhe dera emprego.

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