terça-feira, junho 09, 2020

(DIM) Agnès Varda e a sua aldeia


Agnès Varda corrigia sempre quem a julgava a morar em Paris, porque dizia residir em Paris 14ème, ou seja no bairro que se organizou em torno do enorme cemitério e onde ela repousa desde o ano passado após décadas vividas ali bem perto numa rua com nome de inventor da fotografia (Daguerre) enquanto negócio viável. O 14º bairro era para ela uma aldeia muito diferente do resto da cidade.
Ali, que foi sede da boémia de tantos artistas fundamentais do século XX (Picasso, Modigliani e tantos outros), rodou em 1962 um belo filme - «Cléo das 5 às 7» - sobre uma mulher a vaguear enquanto esperava pelo resultado do exame clínico, que lhe confirmaria o cancro terminal. E, na sua própria rua, recordou as muitas praias da sua vida através de uma, provisoriamente ali instalada. Nela incluiria a memória do documentário ali rodado, quando estendeu dezenas de metros de cabo a partir de sua casa para chegar com o seu equipamento às lojas vizinhas onde falou e deu a conhecer os respetivos comerciantes. Confirmando-lhes a vocação de aldeões com negócios a anos-luz dos instalados e em construção (Les Halles, por exemplo) a tão curta distância.
A reportagem de uma vintena de minutos foi bem curta para enaltecer a grandiosidade da obra de Agnès Varda, mas todas as oportunidades são boas para a recordar e conhecer tantos aspetos singulares de uma vida recheada de experiências e de criatividade.

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