segunda-feira, março 16, 2020

(NM) A revolução cubista


No começo do século XX quatro amigos, com idades compreendidas entre os 22 e os 26 anos, revolucionaram a arte moderna, impondo uma rutura criativa com a estética dificultosamente imposta pelos impressionistas nos anos anteriores. Havia, também, a assombração da fotografia, que ameaçava reduzir  o interesse dos colecionadores pela pintura.
Picasso e Braque decidiram experimentar novas atitudes perante a tela, apoiados nos textos críticos de Guillaume Apollinaire  e na atividade do galerista Kahnweiler, que recusara o desejo familiar de ser banqueiro e se empenhou em encontrar compradores para obras cujo mérito intuiu primeiro que qualquer outro concorrente.
Picasso e Braque esqueceram todas as regras seguidas pelos demais pintores quanto à perspetiva e à semelhança com o tema retratado, recorrendo à mistura entre materiais nobres e menos nobres e às colagens, que inventaram e tornaram canónicas como processo criativo com inegável potencial.
Quando os críticos os apelidaram depreciativamente de cubistas, fundamentando-se numa reação extemporânea de Matisse a uma dessas obras de rutura, Apollinaire contrapôs-lhes a teorização da nova corrente artística aceitando o epíteto e conferindo-lhe a seriedade de uma vanguarda a ter em conta. E se os colecionadores franceses, influenciados pelas línguas viperinas dos críticos instalados, não mostraram interesse em adquirirem essas obras, Kahnweiler garantiu-lhes mercado promissor junto dos determinantes Serguei Chtchoukine e Gertrude Stein.
Até que a Grande Guerra os viesse separar de vez Picasso e Braque comportaram-se como artistas de tal forma fusionais que quadros concebidos quando estavam distanciados por muitos quilómetros, apresentavam semelhanças surpreendentes.
A experiência das trincheiras e a morte de Apollinaire acabou por distanciar definitivamente os dois pintores. Picasso partiu para novas ruturas e experiências ao mesmo tempo que não sentia propensão para se livrar da ativa boémia feita de noitadas sem fim e de muito álcool, ópio ou absinto. Pelo contrário Braque tornou-se num homem diferente depois de testemunhar o horror de um conflito, que quase o matou. Ao regressar à vida civil almejou a serenidade do retiro em que já não havia margem para tudo questionar...

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