segunda-feira, março 02, 2020

Diário das Imagens em Movimento: O olhar de Monet, as falésias da ilha Coron e as mulheres em falta na Ásia


1. Claude Monet, o olhar do pintor é um documentário de Matthias Frick rodado para estimular a visita ao museu Barberini de Potsdam que, desde 22 de fevereiro, apresenta uma retrospetiva do mestre impressionista, escolhendo como perspetiva a importância dos sítios onde viveu na definição das diversas fases da sua obra, todas elas orientadas para a inovação, em rutura com os ditames académicos na intenção de reproduzir a natureza tal qual existia fora do ateliê.
Saindo de Paris através da gare Saint Lazare, passa-se por Argenteuil e Rouen (cuja catedral pintou e repintou vezes sem conta) até chegar a Giverny, onde os jardins e seus nenúfares lhe deram ensejos criativos anos a fio. Porque mudando a luz com tão pródiga frequência, o que iluminava logo tudo transformava no que pintava a cada instante. Daí que o mesmo motivo aparecesse repetido nas suas telas, mas de formas completamente diferentes umas das outras.
2. Os Tagbanwa são um povo do arquipélago filipino, que o navegador Marc Thiercelin contactou num dos episódios da sua série de Encontros com os Povos dos Mares. Graças ao seu reconhecimento como domínio ancestral, a ilha Coron, onde habitam, também é por eles administrada estando vedada ao turismo de massas. Mas os tagbanwa s não se mostram indiferentes às oportunidades de negócios com o exterior, razão porque Roy, um dos líderes da comunidade, escala todas as primaveras as íngremes falésias para recolher os ninhos de andorinhas, avidamente procurados nos mercados asiáticos pela suposta delicadeza do seu sabor e as alegadas virtudes medicinais garantidas com a sua ingestão.
3. Um Mundo sem Mulheres, documentário assinado por Antje Christ e Dorothe Dörholt, aborda os desequilíbrios suscitados por décadas de controles das taxas de natalidade e de abortos seletivos em diversos países asiáticos. Os cálculos apontam para um deficit de 200 milhões de mulheres relativamente à paridade entre os dois sexos. O que equivale a constatar que um em cada cinco rapazes, hoje nascidos na China, não encontrará esposa com quem casar. Explica-se assim o rapto de bebés do sexo feminino para serem educadas em famílias endinheiradas dispostas a casarem-nas com os filhos varões, quando chegarem à maioridade. Ou os mercados matrimoniais nos jardins, onde velhas mães propagandeiam os méritos dos filhos celibatários para os quais anseiam encontrar parceira.
A China não está sozinha nesta situação: na Índia, na Coreia do Sul ou no Vietname ela replica-se quer nos números, quer nos efeitos (raptos, tráficos, exploração sexual). Nos últimos anos, apesar de vários alertas sobre o agravamento do problema, essa tendência não conhece inflexão...

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