sexta-feira, março 27, 2020

(DL) O método criativo de Júlio Verne


A criação de Mathias Sandorf,  romance que Júlio Verne publicou em livro em 1885, depois de o fazer na forma de folhetim num jornal parisiense, ilustra bem o seu método de trabalho.
À partida, após alguns títulos de limitada aceitação junto dos leitores, ele obrigara-se a alcançar um garantido sucesso de vendas. Para tal nada melhor do que replicar o personagem do conde de Monte Cristo, razão bastante para dedicar a nova obra a Alexandre Dumas. Em conformidade com a simpatia do escritor pelos movimentos de emancipação de muitos povos europeus, descreve Mathias Sandorf como um patriota húngaro apostado em libertar a pátria do jugo austríaco. Traído por quem julgara poder confiar, viu-se aprisionado  nas masmorras de um inexpugnável castelo, na iminência de ser executado. Daí que tudo faça para fugir e, quando o consegue decide vingar-se indo à procura de quem o denunciara.
Para essa parte do romance passada na Ístria, hoje parte da Croácia, Verne cuidou de ler relatos de viajantes, que tinham conhecido a região, mas como subsistiam algumas dúvidas, contactou por carta o presidente da câmara de Pazin, cidade onde  situava a masmorra do romance e o canyon com grutas labirínticas onde o protagonista escapava à perseguição dos inimigos. Afável para com o escritor francês o político em causa não só lhe enviou pormenorizadas descrições escritas da sua cidade e arredores como lhes acrescentou explicitas fotografias.
Com esse contributo Júlio Verne conseguiu tão credível relato, que muitos dos leitores terão julgado decorrerem de ter visitado os lugares por si detalhados. Quando, afinal, poupara-se judiciosamente a tal esforço...

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