sábado, novembro 10, 2018

(MP) Pinker, o otimista inveterado


Otimista sou eu e não consigo competir com Steve Pinker para quem a civilização humana nunca esteve tão bem. Para ele, e perante os indicadores com que se possa analisar a realidade, os Trumps, os jagunços e outros fascistas de pacotilha pouco contam. Seriam uma espécie de melgas irritantes, que podem picar e causar dor, mas nada alteram numa evolução, que apenas fazem os possíveis por retardar.
Segundo Pinker o problema das análises erradas, ainda maioritárias, é basearem-se em preconceitos e superstições, escusando-se a considerar os recursos científicos, que se revelam fundamentais para uma acrescida aproximação à verdade dos factos. E secundarizam os valores fundamentais que os Iluministas do século XVIII nos legaram e tornam a Revolução Francesa no acontecimento fulcral da História Contemporânea com ela iniciada.
O mundo progride, embora não incida sobre todos os habitantes do planeta ao mesmo tempo. Ainda assim nos trinta últimos anos a pobreza extrema regrediu 75%, só atingindo atualmente menos de 10% da Humanidade. Embora constitua um facto incontestável, quantos jornais fazem dele um título de primeira página?
É verdade que o mundo muçulmano tarda em aderir aos valores da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade mas as Primaveras árabes, antes de terem sido tomadas de assalto pelos movimentos salafistas, estavam a mobilizar os seus apoiantes em nome de muitos desses conceitos.
Pinker reconhece que Trump surja em contraciclo com essa tendência civilizacional, mas não o estranha: o movimento iluminista sempre conheceu avanços e recuos, com saldo positivo para os primeiros.
O inquilino da Casa Branca é exemplo da reação inevitável de quem tenta contrariar uma dinâmica social, histórica e económica, que implica a perda de poder por uns e a conquista por outros em ascensão. Trata-se de um episódio conjuntural com semelhanças aos senhores feudais, que procuravam contrariar a evolução inerente ao desenvolvimento propiciado pela burguesia mercantil capaz de propiciar as condições para os avanços científicos subsequentes ao Renascimento.
Embora pareçam pujantes na arrogância com que assumem o seu poder, os Trumps, os Putins ou os Erdogans estão condenados: o seu populismo tem adeptos convictos nas zonas rurais, mas as nações andam a conhecer acelerada concentração urbana. Funcionam junto de gente pouco alfabetizada, mas a educação progride por todo o lado. Têm por si os eleitores mais velhos, que rapidamente tendem a desaparecer.
Há um desafio, que as esquerdas ainda não superaram: perante os discursos distópicos dos contra-iluministas, que enfatizam os problemas com a criminalidade, o terrorismo ou a pobreza, não souberam opor um outro, que se revele atrativo a quem possa vir a apoiá-las. O (mau) jornalismo é culpado do enviesamento da realidade, porque incide prioritariamente sobre os factos, o que exclui a sua abordagem sobre a paz ou a prosperidade crescente dos povos. Aonde se os viu enfatizarem a evolução, que permitiu a 1,2 mil milhões de pessoas saírem da situação de pobreza nos últimos anos?
Não é que lhes caiba inculcar um estado artificial de felicidade nas pessoas, mas cabe ao jornalismo dar um retrato mais cabal do presente estado das coisas. Se se fartam de dar estatísticas sobre a meteorologia ou o desporto, porque persistem em só acicatarem as emoções, quando ocorrem casos relativos à segurança dos cidadãos?

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