quarta-feira, novembro 28, 2018

(DIM) «Uma História de Violência» de David Cronenberg (2005)


Naquele que o filósofo Ollivier Pourriol considera o melhor filme de David Cronenberg, um pacato chefe de família de uma pequena cidade do Indiana vê-se confrontado com um passado erradamente julgado como tal. Basta um par de assassinos irromper pelo restaurante familiar, ameaçando massacrar toda a gente, para ele recuperar competências antigas e matá-los num ápice.
Sabe-se bem como a imprensa americana gosta de heróis, sobretudo se os puder promover como parecendo improváveis e tendo uma família convencional a servir-lhe de suporte. Daí que Tom Spall seja idolatrado nas televisões locais, e até nas nacionais.  É como pôr mel para atrair ursos: não tarda a aparecer-lhe Fogerty, em tempos rival do bando de Filadélfia, donde ele se exilara. E apostado em saldar contas antigas, que nunca chegaremos a saber quais foram.  Uma vez mais Tom é lesto a livrar-se das ameaças, mas já não pode esconder à mulher e aos filhos as pretéritas ações, que o obrigavam a revelar-se numa face até então desconhecida.
Se em «O Padrinho» de Coppola a violência era uma espiral de que os protagonistas não se conseguiam livrar, neste filme de Cronenberg sugere-se a mesma alternativa que, em tempos, levava um grande líder político a proclamar que, contra a brutalidade inimiga só restaria combatê-la com o ímpeto revolucionário. Razão para vermos Tom Spall despedir-se da família, cuja segurança já não consegue assegurar, e voltar à cidade de origem para quebrar de vez todos os elos com ela relacionados. Nem que para tal seja obrigado a matar o próprio irmão e todo o gangue por ele chefiado.
No final, coberto de sangue, Tom Spall lava-se num lago e tem a esperança de poder voltar para casa retomando a personalidade tranquila, que conseguira mascarar tão bem antes de ser inesperadamente posto à prova.
Cronenberg aborda a violência mediante a questão: donde vem o Mal? Pode-se cometer um crime, tendo-se sido virtuoso até então, ou ele explica-se por um tipo de contágio transmitido de geração em geração? Embora abundantemente explicita, a violência não é aqui estetizada, mas escalpelizada. Até porque, não havendo vidas para além da morte, todas elas valem por si mesmas sem compensações que as possam vir ulteriormente a redimir.

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