domingo, novembro 04, 2018

(DL) Os nórdicos não têm vocação para nos fazerem rir!

Desde a já distante leitura dos romances de Tom Sharpe com Wit como protagonista, que a leitura de romances não me dá ensejo de rir desbragadamente com a divertida imaginação de um escritor, embora nenhum tenha conseguido esse tão bem sucedido efeito como Mário de Carvalho com os seus «Contos do Beco das Sardinheiras».
Ao  encetar «Le Vieux qui voulait sauver le monde» tive a expetativa de, acreditando nas críticas dos jornais franceses, reencontrar bons momentos de entretenimento inteligente. Passara ao lado de «O centenário que fugiu pela janela e desapareceu», publicado pela Porto Editora há três anos, e entretanto inserido no Plano Nacional de Leitura, que talvez tivesse justificado a descoberta do autor por essa obra. Era nela que o seu alter ego, o centenário Allan Karlsson aproveita a preparação da homenagem da sua cidade para comemorar a proveta idade e foge de um futuro, que só pode ser a de conformada espera da morte.
Na continuação dessa fuga encontramo-lo um ano depois na ilha de Bali na companhia do fiel Julius Jonsson, um escroque, que sofre com o espaçamento crescente entre os seus irrisórios golpes. Apesar do ambiente paradisíaco, Allan aborrece-se, de nada valendo os esforços do amigo para o animar, seja fretando um iate para que possam ir à pesca, ou ajudando-o a contratar Harry Belafonte para um espetáculo único que só tem o mérito de lhe abrir a curiosidade para o gadget, que o cantor tanto parecia prezar: o tablet.
Embora ainda o tente evitar, Allan irá viciar-se na consulta de como o mundo evolui, assunto a que sempre devotara a maior das indiferenças. De repente passam a preocupá-lo coisas tão diversas como a sobrelotação das prisões romenas, porque muitos políticos nelas haviam sido encarcerados por corrupção, ou a forma como médicos e enfermeiros napolitanos tinham enganado os seus empregadores ao picarem o ponto pelos que faltavam ao serviço.
As páginas sucedem-se, existe uma ironia ideologicamente difícil de discernir para que direção aponta, mas o efeito é tão entediante quanto o sentido pelo protagonista perante a paisagem indonésia. É caso para concluir que o humor não é coisa para que os nórdicos mostrem grande vocação.


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