segunda-feira, abril 03, 2017

(DL) «Os Idólatras» de Maria Judite de Carvalho (1969) - I

Este é o primeiro texto sobre os treze contos, que Maria Judite de Carvalho publicou em 1969, com o título de «Os Idólatras». Como se vislumbra nos três aqui abordados, estamos em ambientes futuristas, com a incontornável solidão dos protagonistas.
«A Floresta em sua Casa»
Num tempo em que os elefantes já desapareceram e o último leão acaba de morrer num dos escassos jardins incumbidos de conservaram o que restara da vida selvagem, há um pintor a criar telas ao estilo outrora assumido por Douanier Rousseau.
Numa casa está pendurado um desses quadros com um leão, três corças e um macaco. Um dos miúdos, que vive nesse apartamento, começa a notar, com crescente aflição, o que se passa nessa representação: as corças,  uma a uma, depois o macaco, a seguir o irmão mais novo e, enfim, a mãe, todos desaparecem por certo vítimas da voracidade do felino. Mas o pai é levado, acusado de ter matado o filho e a mulher.
Muitos anos depois aquele que fora esse tal miúdo, regressa à casa familiar, agora a cheirar intensamente a bafio, e vê no quadro todos os animais do princípio.
Fica a dúvida: seria verdadeira a versão dos tios, que dele haviam cuidado e tinham atribuído à sua excessiva imaginação a história com que iludira a sanha homicida do progenitor?

«Os Idólatras»
Aos dezanove anos, mesmo que comemorados no dia seguinte, Vic é o tipo de artista capaz de levar à histeria as admiradoras de todos os sítios por onde vai passando a sua tournée.
Joel, o amigo, tenta protege-lo, livrá-lo do stress provocado por quem dele pretende levar uma relíquia ou um autógrafo. Tanto mais que lhe pressente o prazer pelo usufruto do silêncio do mar ali ao lado.
Mas the show must go on: condescendente, o rapaz acaba por descer ao encontro dos que não se dispõem a sair dali sem ele lhes ir ao encontro.
«O Meu Pai era Milionário»
Cinquenta anos depois de ser hibernada numa cápsula, Pamela Rog desperta para inquietante realidade.
Quando adoecera tinha dezoito anos e o pai era um bem sucedido fabricante de automóveis. Agora vê-se condenada à pobreza e à solidão.
O irmão, já velho, não tem condições de a ajudar: a mulher e os filhos culpam-na pela falência do pai, que condenara toda a família à quase indigência. E o príncipe italiano de que estivera noiva acabara por casar com a melhor amiga.
Restar-lhe-ia a novidade de ter vindo do passado, mas numa altura em que está a decorrer a chegada do primeiro astronauta a Marte, quem se interessa pelo que já perdeu todo o interesse?

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