domingo, abril 02, 2017

(DIM) «Tudo Vai Ficar Bem» de Wim Wenders

Foi antes do 25 de abril, que fiz a grande entrada no grande cinema alemão dessa época nas sessões do Instituto do Campo dos Mártires da Pátria. Foi aí que vi os primeiros Fassbinder, Herzog, Straub ou Syberberg. Em relação aos filmes então permitidos pela censura marcelista, esses continham uma irreverência estética e de conteúdos, que naqueles era impossível encontrar.
Na segunda metade da década de 70 consolidei essa preferência pelos filmes germânicos em relação aos franceses, dada a perda de fulgor da «nouvelle vague». Foi por essa altura que me entusiasmei com os filmes de Wim Wenders. 
«A Angústia do Guarda-Redes perante o remate». «Alice nas Cidades». «Falso Movimento». E o que foi o deslumbramento perante «O Amigo Americano».
A criatividade do realizador começou depois a gripar:  «Hammett» foi uma desilusão e, apesar de tão incensado pela crítica, não gostei particularmente de «Paris, Texas».
Por essa altura ele dizia que todas as estórias estavam contadas, não havendo nenhuma, de que pudesse orgulhar-se quanto á sua originalidade.
Desde então gostei de alguns títulos - «As Asas do Desejo» ou com «Até ao Fim do Mundo» -mas só nos documentários, mais pelos temas do que pelo mérito cinematográfico («Pina», «O Sal da Terra»), se tornaram merecedores de atenção.
«Tudo Vai Ficar Bem» foi uma tremenda desilusão, apesar de só confirmar a decadência irreversível de Wenders. A história de um escritor, que atropela mortalmente uma criança vivendo doravante com o correspondente trauma psicológico, que lhe servirá porém de estímulo para uma bem sucedida carreira literária, é toda feita no total despojamento das emoções, como se, em vez de feitas de carne e osso, as personagens fossem meros robôs.
James Franco, Rachel McAdams e Charlotte Gainsbourg estão incumbidos de personagens, que deveriam mostrar dor, frustração, indignação mas mantém uma inexpressividade inabalável.
Sara, a antiga namorada de Tomas, ainda lhe dá duas chapadonas na cara por ele a ter deixado muitos anos antes, mas alguém acredita na possibilidade de durar tanto tempo tal tipo de ressentimento? O misto de raiva e de indignação do irmão do miúdo atropelado contenta-se em entrar na casa dono do automóvel para lhe urinar a cama?
Tanto quanto deu para atentar no genérico o argumento é baseado num livro de um escandinavo. Mas quem acredita ser essa rígida contenção a forma mais normal de lidar com o sentimento de perda nessas latitudes nórdicas?


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