segunda-feira, fevereiro 20, 2017

(DIM) «Serbis», um filme de Brillante Mendoza

Em Angeles, nas Filipinas, a família Pineda  está em acelerada decadência: em vez da rede de salas de cinema, que chegara a explorar, conta apenas com uma e um restaurante a ela associado, que mal vai dando para sustentar todos quantos vivem sob a alçada da matriarca, a Mamã Flor.
Há a filha mais velha, Nayda, que bem gostaria de ter seguido a carreira de enfermeira para que se formara, mas agora se vê condenada a gerir o negócio familiar com o marido Lando. Há o neto Jonas, que tudo espreita à sua volta, mormente a nudez da tia Jewel ou as cópulas dos homossexuais na penumbra da sala de cinema. Há Alan, que pinta os cartazes e acaba de engravidar Merly, e Ronald, com quem ele sempre se disputa.
A câmara acompanha as deambulações dos vários personagens por aquele espaço, donde quase nunca se sai. A contas com os demónios interiores, todos quantos integram a família, tentam ignorar o negócio do sexo, praticado nas suas barbas.
O cinema chama-se «Family», mas há muito que se adivinha não passarem ali filmes condizentes com tal nome: o que se vê nos breves vislumbres do que se passa no ecrã, são fitas pornográficas de há muitos anos, que ninguém se dá ao trabalho de apreciar, porque os escassos espectadores estão a prestar o «serviço» - daí o título - aos clientes de passagem. É um edifício vasto e  labiríntico, cuja arquitetura é captada em longos travellings pela câmara ao ombro do operador de Mendoza.
Na fachada para a movimentada rua, fica a cafetaria, onde Lando cozinha arroz e salsichas e o tio homossexual (que se casara para ter um filho) vende flores a preço exagerado.
Na cabine de projeção Ronaldo aproveita a atração que, por ele tem um travesti, enquanto um ou dois andares abaixo, Alan pinta os cartazes para anunciar os próximos títulos ao mesmo tempo que enfrenta a ira de Merly, que lhe exige casamento por estar grávida.
Toda essa família tem por soberana a Nanay Flor, aquela que maior consciência tem da anunciada e definitiva ruína daquele negócio de que dependem tantas bocas. Mas também a que acaba de perder o processo contra o ex-marido a quem pretendia cobrar o preço de a ter traído, e afinal apoiado por todos quantos ali dela dependem. Como pode conseguir justiça perante essa oposição, complementada com a corrupção dos juízes e dos advogados?
Mendoza revela as fraquezas e as potencialidades desses personagens, que se vão revelando em concomitância com a explicitação de todo o espaço em que atuam. Há um estilo muito pessoal na forma como gere o ritmo do filme, interligando a fotografia e o correspondente universo sonoro, lembrando de quando em quando os excessos fellinianos…
Sente-se a iminência de um desastre anunciado, mas sem auspiciosa redenção para o compensar.

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