terça-feira, fevereiro 14, 2017

(DIM) O regresso ás comédias musicais da época dourada de Hollywood

Tendo em conta os prémios, que vai acumulando para a anunciada consagração nos Óscares é licito, que nos interroguemos se «La La Land» é um filme assim tão bom quanto o pintam. Até ver esse sucesso resulta do intencional regresso aos tempos das cândidas comédias musicais em que um par tenta amar-se e ter sucesso. Não é obra-prima, mas não desmerece da tradição de que se socorre.
O filme anterior de Damien Chazelle já propiciara mais contentamento em quem o viu do que pressuporia a típica história de um talentoso baterista de jazz a contas com as exigências quase sádicas do seu professor («Whiplash»).
Agora regressamos aos musicais da época dourada de Hollywood, embora não escapem as referências a filmes posteriores como os de Jacques Demy ou «New York, New York». De quem foge como diabo da cruz é dos grotescos exercícios de Baz Luhrman que me serviu de inesquecível vacina uma versão de «Romeu e Julieta» com Leonardo di Caprio e Claire Danes.
Chazelle já não pode contar com alguns dos fortes argumentos encantatórios dos filmes do passado - os cenários vistosos, os numerosos figurantes e os movimentos de câmara suportados por gruas. Para colmatar as limitações opta por criar a magia à conta dos recursos propiciados pela iluminação do estúdio.
A montagem foge, igualmente, à ambição operática, mostrando-se contida  para reforçar a simplicidade da história feita de sentimentos básicos e valendo-se dos irrepreensíveis atores.
Quanto à história contemo-la assim: em Los Angeles o acaso suscita encontros sucessivos entre Mia e Sebastian. Ela ambiciosa ser atriz, mas o melhor que consegue é empregar-se na cafetaria de um dos estúdios. Ele vai penando como pianista num restaurante donde acaba por ser despedido. Na primavera reencontram-se e enamoram-se, mesmo obrigando-a a romper com quem está então a namorar. E como os castings continuam a ser-lhe madrastos, Mia deixa convencer-se por Sebastian a criar o seu próprio espetáculo.
Chega o verão e Sebastian é convidado para uma digressão com um grupo de música eletrónica, que em nada corresponde ao seu estilo. Mia sente intensas saudades.
O outono traz a crise no casal: ela está quase a estrear o one woman show, quando discutem durante um jantar. A situação agrava-se quando razões profissionais o impedem de assistir à estreia desse espetáculo, que se revela clamoroso fracasso. Mia opta por regressar a casa dos pais, ciente de não o ter presente quando dele mais necessitava. É nessa altura que uma produtora contacta Sebastian a indagar do paradeiro dela, porque acabara de ser selecionada para a rodagem de um filme em Paris. Apesar disso significar três meses de ausência, Sebastian convence-a a aceitar.

 Cinco anos depois, numa noite de inverno, a bem sucedida Mia, já casada e mãe de família, vai a um clube de jazz com o marido. Quem aí toca é Sebastian com o seu grupo. Este, ao vê-la toca em sua intenção uma peça musical, que recorda ser do seu agrado. Por momentos recordam a vida de casal, que poderiam ter constituído. Mas, no final, trocam um sorriso e ela volta a partir.


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