quinta-feira, setembro 22, 2016

(V) «Os Dominadores» de John Ford (I)

Em 1876 a ainda frágil nação norte-americana passou por grande sobressalto, quando o general Custer foi derrotado na batalha de Little Big Horn. De repente as diversas tribos índias ostentaram, na sua capacidade para unirem esforços, um potencial militar, que punha em causa a possibilidade de se prosseguir a conquista do Oeste selvagem.
No forte isolado onde está quase a chegar à idade da reforma o capitão Nathan Brittles (John Wayne) constata tal inversão na relação de forças e tenta convencer um velho chefe, de quem se tornara amigo, a desviar a tribo dos perigos de engrossar a coligação de forças contra os colonos brancos.
A situação complica-se temendo-se um ataque brutal contra o forte, mas, numa ousada iniciativa, ele acaba por neutralizar o perigo, privando as tribos dos cavalos  que seriam imprescindíveis aos seus intentos.
Colateral a essa estória principal, ilustra-se o quotidiano do forte, nomeadamente a rivalidade de dois tenentes apostados em ganharem a corrida pelo noivado com a sobrinha do comandante  (Joanne Dru). A fita amarela do título inglês simboliza a tradição existente na cavalaria norte-americana em como uma  rapariga já está comprometida!
Datado de 1949, o filme de John Ford é o segundo da sua aclamada «Trilogia da Cavalaria», seguindo-se a «Forte Apache» e antecedendo «Rio Grande», havendo quem o considere um poema elegíaco e nostálgico, que ganha em ser visto e revisto, por nele se descobrirem invariavelmente novos detalhes.
A Trilogia foi concebida a partir das novelas de James Werner Bellah e dos quadros de Frederic Remington, que tinha escolhido o exército como tema preferencial. A intenção de Ford era a de dar a ver aos espetadores como viviam os soldados, que patrulhavam as paisagens majestosas de Monument Valley ou guarneciam os fortes construídos para protegerem as fronteiras ainda instáveis do Arizona e do Texas. Mas diversificava o leque de personagens com alguns estereótipos, que incluíam mulheres maduras e desempoeiradas, oficiais honestos e espirituosos, suboficiais com imoderado gosto pela bebida (Victor McLaglen), jovens recrutas impetuosos e beldades audaciosas, caprichosas e dadas a paixões escaldantes. Apesar de se aproximar da lamechice, Ford consegue a ela escapar por uma unha negra.

Estamos, pois, na ilustração de uma comunidade onde a solidariedade, a manutenção da lei e da ordem e as tradições garantiam o entrosamento entre quem a constituía. O que Ford tanto prezava na cavalaria era ter sido um ramo militar, que soubera integrar sem sobressaltos os antigos confederados e unionistas. Mesmo que, nesta época, os filmes de Ford resultassem invariavelmente em massacres dos índios, apresentados como cruéis e traiçoeiros.
Ford tinha uma visão idílica desse universo militar, que apresentava como humanista, tolerante e sem excessivo patriotismo.

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