quarta-feira, setembro 14, 2016

(V) A imaginação dos aprendizes de feiticeiro

Há três anos atrás uma equipa de arqueólogos imaginativos trouxe a lume a  surpreendente teoria de uma origem anterior à presença dos portugueses na ilha do Pico para os maroiços aí existentes. As «pirâmides» suscitavam tanto entusiasmo, que os mais excessivos até já as equiparavam às do México.
Sabemos bem como, na linha de uns quantos defensores da parapsicologia e de uma História alternativa à conhecida e toda ela assente em coisas tão singulares como presenças alienígenas, sociedades secretas e outras “explicações” singulares, se tem criado uma subcultura, que pretende substituir o conhecimento científico por seus sucedâneos, que redundam muitas vezes em fenómenos sectários, de que a Cientologia é só um dos piores exemplos.
As mirabolantes hipóteses sobre as origens dessas construções, existentes na zona mais seca da ilha em causa, foram lapidarmente desqualificadas por Manuel Tomás, o convidado de Paula Moura Pinheiro no episódio da «Visita Guiada» desta semana.
Basta usar a cabeça para fazer perguntas óbvias: como é que teriam esses construtores  carregado com tanto material se não existiram portos dignos desse nome até muito recentemente? E não é verdade que artefactos ali descobertos seriam depois datados do século XVI pela conhecida tecnologia do carbono?
O senso comum leva facilmente a concluir que esses maroiços foram criados como acumulação de pedras dos terrenos circundantes, que os povoadores portugueses  começaram a retirar em busca de terra arável, capaz de aceitar a cultura de cereais. A forma piramidal não terá resultado de nenhum preestabelecido plano arquitetónico, mas apenas por ser a mais lógica, quando se procede a trabalhos desse tipo. Não é isso que verificamos na praia, quando vemos miúdos afadigados em abrirem buracos na areia?
Os deuses da Ciência nos livrem dos seus mais imaginativos sacerdotes, que só nos podem mergulhar em maior ignorância! 

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