terça-feira, junho 09, 2015

ESTÓRIAS DA HISTÓRIA: Pelas terras da Rainha do Sabá? (4)

Em 1871, quando andava a procurar vestígios de antigas civilizações numa região africana ainda por explorar, o aventureiro alemão Karl Mauch  viu-se sozinho no meio de nenhures, abandonado e roubado de quase todos os seus víveres pelos carregadores, que contratara.
Sentiu-se encurralado: ele que alimentara desde criança o sonho de imitar os grandes exploradores cujos feitos eram cada vez mais objeto de notícias exaltantes, percebeu-se próximo do mais desesperante dos fracassos.
Não podia fugir. Na segunda noite, a minha posição era desesperada. Por isso não admirava que me tivesse passado pela cabeça suicidar-me antes que sucumbisse a uma morte lenta.”
Mauch pressentia, porém, que o seu objetivo estava próximo. No dia seguinte decidiu superar o desespero e aproximou-se de uma aldeia local. Ali contratou guias, que o conduziram ao topo de uma montanha distante. Foi dali, que viu pela primeira vez, as muralhas antigas situadas lá em baixo no vale.  Ele que, ainda há poucos dias, só pensava na morte conseguia, enfim, transformar as suas viagens num sucesso inigualável.
Após seis anos de porfiados esforços, Mauch descobria o Grande Zimbabwe, ficando atónito com o que via: muralhas em pedra a estenderem-se por mais de 270 hectares e, no seu centro, um recinto com nove metros de altura e dezenas de metros em volta.
Mauch compreendeu que estava no interior de uma antiga cidade em expansão. Tinha sido uma cultura única na África subsariana, com milhares de pessoas a habitarem-na. Mas, não se mostrando imune aos preconceitos europeus sobre África, o alemão excluiu a ideia de ter sido construída pelos africanos locais.
Na ideia de Mauch os africanos só construíam cubatas em bambu e trabalhavam nos campos, não mostrando competências para construírem uma cidade tão magnífica. E os seus momentâneos anfitriões pareciam partilhar-lhe a convicção: “Todos estão absolutamente convencidos que em tempos a região foi habitada por brancos.”
Sem ter conhecimentos de arqueologia, Mauch procurou respostas para as suas dúvidas na Bíblia e nas lendas. Todos aqueles palácios ainda percetíveis no meio das ruínas teriam sido pertencentes à rainha do Sabá.
Para procurar provas, que sustentassem a sua teoria, retirou algumas lascas de madeira de um vão de porta: “o seu cheiro é muito semelhante ao da madeira de cedro, que é utilizada para fazer lápis. A cor também é a mesma.”
Essa constatação levou-o a suspeitar que tal madeira teria sido importada do Líbano. E as tribos locais também lhe deram provas, que iam no sentido da confirmação da sua teoria: o costume da circuncisão remeteria, igualmente, para a interação havida em tempos entre a rainha do Sabá e o rei Salomão.
Em definitivo, Mauch julgava ter concretizado uma das grandes descobertas da História da Humanidade: uma cidade esquecida e perdida no meio de África.
O êxtase de Mauch desmoronou-se, quando voltou a adoecer. Desesperado e só, estava consciente de só sobreviver se regressasse ao seu país.
Após sete anos de aventuras e de muito sofrimento, Mauch arrastou-se para a costa e deixou África para sempre...

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