A Palma de Ouro do Festival de Cannes deste ano foi atribuída a «Dheepan» de Jacques Audiard numa decisão, que muitos consideraram incompreensível por parte do júri liderado pelos irmãos Coen.
O realizador confessou ter-se inspirado numa obra de Montesquieu para compor esta história de um antigo guerrilheiro tâmil, que foge do Sri Lanka com uma rapariga e uma miúda órfã de 9 anos, para buscar refúgio onde possa esquecer a guerra ingloriamente perdida.
O local onde Dheepan consegue alojar-se, a troco de um emprego de porteiro, não é propriamente o que imaginava: de repente vê-se num subúrbio parisiense sacudido pelas guerras entre gangues de traficantes de droga vendo frustrado o sonho de uma merecida tranquilidade.
Se Dheepan irá criar laços de afeto com as duas outras refugiadas, que se tinham feito passar por suas familiares - e não tardarão a sê-lo convictamente - não deixará de reassumir a capacidade para se tornar, ele próprio violento e assim melhor defender quem ama.
Muito embora o argumento seja burilado o bastante para tudo fazer sentido psicológico e narrativo, o filme tem limitações evidentes: os personagens nunca se libertam dos estereótipos, que supostamente representam, e por isso não têm a complexidade, que os poderia tornar mais credíveis. Mas, pior do que isso, para Audiard aquele bairro problemático não é mais do que um cenário onde só parecem existir os dealers e as suas vítimas potenciais, sem que aí se vejam colocadas questões políticas, religiosas e até mesmo sexuais.
Não será por conta deste seu filme galardoado, que Cannes-2015 perdurará nas memórias...
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