domingo, junho 07, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Glorious 39» de Stephen Poliakoff (2009)

Um filme decidido a seguir as boas influências de Hitchcock e com um elenco integrando Bill Mighy, Julie Christie, Christopher Lee, Eddie Redmayne, Juno Temple, Jenny Agutter, Hugo Bonneville e Jeremy Northam? À partida deveria ser imperdível … mas não é, por faltarem a Stephen Poliakoff e aos seus argumentistas as unhas para tocarem tal viola.
A história até arranca bem: Michael procura dois anciãos aos quais solicita informações sobre a família, quando a Segunda Guerra estava quase a declarar-se. Mas eles avisam-no: “Nem sempre é bom voltar ao passado!”
Vamos então ao passado, até Norfolk, onde o proeminente deputado Sir Alexander tinha a mansão familiar, partilhando-a com a mulher Maud, e com os filhos: Anna, a mais velha  fora adotada ainda bebé e estava a ter sucesso como atriz de cinema, Ralph, que já trabalhava no Foreign Office e Celia, a avó do adolescente, curioso quanto ao seu passado.
Numa festa de aniversário do anfitrião, dois dos convidados disputam argumentos: Hector, jovem deputado admirador de Churchill, insurge-se contra a passividade de Chamberlain defendido por Balcombe, um responsável do Foreign Office sobre quem Anna vem a descobrir algo que a surpreende: num dos armazéns guardou pastas de documentos e discos cujo conteúdo nada parecem ter a ver com o que supostamente identificam.
Um dia durante as filmagens do seu filme mais recente, Anna recebe a notícia da morte de Hector, supostamente de suicídio.
Mas a estranheza com que acolhe essa notícia perturbadora nada se compara com uma sucessão de episódios nos dias seguintes: o desaparecimento de um dos sobrinhos durante uns minutos desesperantes, quando fora deixado á sua guarda em pleno campo. Ou as viagens sucessivas do namorado, Lawrence, também ele a trabalhar no Foreign Office e que, sem explicação, ora está na Escócia, ora logo se desloca para Paris.
Apesar de Balcombe transferir o conteúdo do que escondera no armazém de Norfolk para outro local desconhecido, ela surripiara-lhe alguns dos discos, descobrindo a surpreendente conspiração em que ele e o seu irmão, Ralph, estão envolvidos e tendo como resultado o assassinato não só de Hector, mas também de Gilbert, o ator homossexual com que andava a contracenar no cinema e a quem dera a conhecer o que sabia.
Enviada pela família para casa da tia Elizabeth sente-se aí aprisionada. Começa a compreender que a teia de cumplicidades em seu redor é muito mais extensa do que julgara, razão porque procura sem sucesso escapar das várias casas onde a vão encerrando. Numa dessas ocasiões dá com o corpo do namorado num matadouro, onde dezenas de animais tinham acabado de ser abatidos.
Aqui e além vão ocorrendo pormenores interessantes, como o de ver um senhor corpulento, quase sósia de Hitchcock, a passear-se de bicicleta pelos campos ou a olhar para Anna na igreja de uma forma que a inquieta.
Há também óbvias referências à Shoah e ao colaboracionismo de uma parte significativa da aristocracia britânica para com Hitler em quem viam uma ameaça menos virulenta, que a dos comunistas.
Pena que a credibilidade sofra tratos de polé, fazendo com que mais pareçamos confrontados com um filme em trinta e uma partes, com a heroína sempre a safar-se de inacreditáveis vicissitudes, do que a uma aventura com alguma consistência.
Tendo os meios humanos e de produção para conseguir um filme memorável, Poliakoff reduziu-o a uma coisa tipo chiclete, que rapidamente se esquece... 

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