quarta-feira, junho 10, 2015

ARTES: Criaturas estranhas na areia

Há vinte anos que o holandês Theo Janssen cria esculturas móveis, miriápodes de tubos e de garrafas de plástico, que começa por desenvolver no papel. As suas criaturas da praia, como as chama, constituem o projeto da sua vida.
Construir, experimentar e imaginar são a sua razão de ser. Os objetos artísticos deste engenheiro diplomado em física e antigo pintor captam o vento nas asas muito leves e deslocam-se sozinhos como se tivessem membros fossem feitos de carne e osso. Lembram então gigantescos insetos ou esqueletos em movimento, seres fantásticos de um outro mundo ou outro tempo, que passaram a fazer parte da paisagem da praia de Scheveningen.
As criaturas imaginárias de Jansen são tão sofisticadas quanto simples e sempre construídas de acordo com o mesmo princípio de base. Divertidas e surrealistas, respeitam a natureza e atraem um número sempre crescente de visitantes.
Para construir estes espécimes são necessários poucos materiais: sobras de tubos de PVC, fita adesiva, elásticos, bem como o tecido leve que compõem as suas asas.
As ferramentas também não são muitas: tesouras, cerra-cabos,  pinças. E uma tocha que lhe permite aquecer e curvar os tubos. Cria assim elementos e peças quase anatómicas: nervos, estômagos, articulações, patas.
A produção segue o ciclo das estações: começa no inverno no atelier do artista em Haia. As criaturas nascem no papel antes de modelizadas no computador para serem fabricadas. Uma criatura por ano. Cada uma é única e diferencia-se das precedentes.
Na primavera é transportada para a praia onde Theo Jansen faz os derradeiros testes de aerodinâmica da criatura. No final da estação, martirizada pelas intempéries e pelo pó, é eliminada porque as articulações endurecem e enferrujam com o tempo, como se fosse qualquer outro organismo vivo.
A acreditar no artista estas criaturas já estariam na sétima geração de uma evolução para uma nova espécie viva e autónoma. Porque são capazes de se adaptarem ao seu meio ambiente, agarrarem-se à areia quando chegam as tempestades e de reconhecerem os obstáculos de forma a mudarem de direção, quando contactam com a água. 

Sem comentários: