domingo, junho 21, 2015

DIÁRIO DAS IMAGENS EM MOVIMENTO: «Os vizinhos de Putin» de Danko Handrick (2015)

Viagem curiosa a que o realizador Danko Handrick empreendeu durante três semanas levando-o a cinco antigas repúblicas da União Soviética, pouco depois de consumada a anexação da Crimeia. O objetivo era indagar como estava a ser percecionada a política russa na Ucrânia, tendo em conta a guerra entretanto ali iniciada.
Quando chegou ao seu destino final já tinha compreendido a existência de grandes divergências entre os que admiram e os que detestam Putin, mesmo nos que partilham o trabalho quotidiano na mesma equipa ou a mesma família.
Na primeira etapa Handrick visita Liepaja, uma vila piscatória da Letónia, onde um pescador russo e o seu colega letão têm opiniões opostas. Mas constata, igualmente, as tensões suscitadas pelo ostracismo a que as populações russófonas estão sujeitas, já que todos os documentos e atos oficiais são na língua báltica.
Aquilo que, dando pretexto para que os separatistas tomassem as suas posições, o novo poder procurou impor na Ucrânia - a eliminação do russo como língua oficial - foi aplicado na Letónia com sucesso relativo, já que as consequências económicas estão a revelar-se muito complicadas. O país está em grave crise e os jovens só pensam em emigrar.
Na Bielorrússia Handrick encontra aparentemente consolidada a ditadura de Lukashenko. Os mais velhos parecem fiéis defensores do regime, que lhes garante o pagamento das reformas ao dia certo. Mas a crise está também a fazer estalar o verniz. Se a maioria dos entrevistados tinha na boca sempre a mesma fórmula (“Tudo está perfeito!”), há vozes críticas, que alertam para um descontentamento crescente à medida da insuportável subida da inflação.
A viagem prossegue atá Kiev, onde Handrick vai encontrar refugiados da zona oriental do país alojados precariamente num dos abrigos preparados pelas autoridades.
Tendo visto as suas vidas seriamente perturbadas pelos acontecimentos, que as ultrapassaram, muitas dessas pessoas criticam asperamente os manifestantes da Praça Maidan. E, se muitos ainda falam em democracia e maior ligação ao Ocidente, têm de forçosamente reconhecer o caos em que vivem, com as empresas fechadas, o desemprego a crescer a galope e as milícias do movimento neonazi a desfilarem pelas ruas.
A quarta paragem acontece na Moldávia, que viveu uma guerra civil e por isso está dividida em duas partes desiguais: a ocidente os que olham para este lado do continente, para leste fica a Transnístria, cujos habitantes se orgulham de viver num autêntico museu da União Soviética ao ar livre. Entre agricultores, que deixaram de cultivar as suas terras por ficarem na linha de demarcação entre os dois campos e reformados pró-russos, que defendem ativamente Putin, Handrick encontra toda a paleta de cores políticas.
Falta, enfim a Crimeia e a base naval russa aí instalada. Há descontentamento nos que seguiam a variante ucraniana da Igreja ortodoxa e nos tártaros, mas muitos dos entrevistados consideram que a ligação á Rússia mais não constituiu do que a correção de um erro histórico.
O maior interesse do documentário acaba por ser o de dar rostos às contradições aparentemente insanáveis, que alastram naqueles cinco destinos.



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