terça-feira, dezembro 06, 2016

(DIM) Quando os monstros não são só os que nos quiseram vender

Uma das experiências impressionantes da minha vida foi ter estado na ex-Jugoslávia nos finais dos anos 80 ficando impressionado com o clima de liberdade e de tranquilidade ali então vivido. Dubrovnik, a cidade de que mais gostei, ficou-me como uma das mais belas desses Balcãs, mesmo tendo em atenção os seis meses então igualmente vividos na Grécia, suficientes para a conhecer razoavelmente desde Atenas até ao cabo Sounion.
Não poderia imaginar que, meia dúzia de anos depois, toda a República do marechal Tito se embrulharia numa guerra fratricida de que resultariam umas quantas novas nações independentes. Entre elas a Eslovénia, que me viria a ser tão próxima por razões familiares.
Essa guerra resultaria em mais de cem mil mortos, vitimados pelas ações de guerra entre sérvios, croatas, bósnios e eslovenos e, embora se as tenda a esquecer, igualmente pelas suscitadas com os criminosos bombardeamentos da NATO a Belgrado.
Sem escamotear a responsabilidade dos dirigentes sérvios na agudização de um conflito para o qual a Alemanha e o Vaticano se encarregaram de atiçar os seus aliados católicos e muçulmanos, a guerra dos anos 90 nos Balcãs foi a expressão da ambição expansionista de quem mandava na NATO para se aproximar mais e mais das fronteiras da Federação Russa, eliminando-lhe um a um os potenciais aliados.
E porque acabaram por ser derrotados no esforço para manter unida a nação jugoslava, foram os sérvios quem se viram diabolizados como culpados pelos genocídios de parte a parte cometidos.
Se à conta de Milosevic, de Karadzic e de Mladic foram cometidos muitos crimes, também o croata Franjo Tujman ou o bósnio Hashim Thaçi não lhes ficaram atrás, porque guerra era a guerra e ninguém revelava grandes escrúpulos para com quem considerava inimigo.
No entanto se os líderes sérvios acabaram em Haia para serem julgados no Tribunal criado para os crimes cometidos na ex-Jugoslávia, os opositores não foram beliscados na sua liberdade de movimentos acabando até por se tornarem presidentes dos seus novos países.
Em 2014 Aleksandar Nikolic acompanhou vários meses na vida do advogado Marko Sladojevic, que integrava a equipa de defesa de Radovan Karadzic. Algo para ele paradoxal pois, antes de se radicar na Holanda para estudar Direito Internacional, participara durante dez anos na contestação ao regime de que o seu cliente era um dos mais expressivos líderes.
Embora incompreendido por antigos companheiros de estudos e de lutas, e até mesmo pela própria esposa, a eslovena Tina de quem se chega a separar durante alguns meses, Marko está decidido a fazer bem o seu trabalho. A ética profissional sobrepõe-se à que radica nas suas passadas emoções.
O que começa a descobrir surpreende-o: Karadzic pode ter sido um torcionário, mas muitas das provas contra ele criadas foram construídas por quem pretendia provar a existência de genocídios.
Um dos exemplos mais evidentes eram as fotografias de corpos supostamente executados em Markale em cujo solo não se detetava qualquer mancha de sangue. Comprovava-se, pois, que os promotores da prova fraudulenta tinham pegado em corpos arranjados num qualquer outro local e os tinham ali dispostos para criar um maior efeito cénico. No fundo algo que bem conhecemos como estando a passar-se atualmente em Alepo e «comprado» facilmente pelos «jornalistas», que pretendem criar de Bashar al Assad a mesma imagem monstruosa.
O documentário - «O Advogado da Sérvia» - poderia suscitar nalguns expeditos defensores das teses sobre quem sãos os ditadores e quem são os democratas algum sobressalto de inquietação. A singela pergunta se será mesmo verdade aquilo de que os querem convencer e fazer altifalantes. Mas convenhamos que a grande maioria já se deixou formatar para «verdades», que se lhes incrustaram como axiomas indiscutíveis...
 

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