domingo, dezembro 18, 2016

(DIM) Os maridos segundo John Cassavetes

Em 1970 o cinema norte-americano estava a viver uma fase interessante com os estúdios a sentirem esgotadas as fórmulas que tinham sido do agrado do público até então (o western, por exemplo) e com alguns realizadores mais progressistas a experimentarem formas diferenciadas de ilustrarem os impasses em que então se vivia.
Com «Husbands», Cassavetes mostra como a pequena burguesia andava a contas com as insatisfações decorrentes de rotinas sempre iguais e procurava soluções alternativas, que lhe permitissem dar algum sentido para a existência.
Por isso mesmo, logo no genérico ficamos a saber que iremos ao encontro de uma história sobre a vida, a morte e a liberdade.
A morte surge de imediato nos primeiros minutos com Gus (John Cassavetes), Archie (Peter Falk) e Harry (Ben Gazzara) a comparecerem ao funeral de um amigo
A experiência é tão avassaladora, que decidem-se pela catarse de uma noite de copos a três, em vez de regressarem a casa. Porque, de repente, são confrontados com as inquietações decorrentes da finitude ou da solidão.
Na ressaca da noite decidem voltar a ser miúdos, organizando corridas nas ruas que deixam estupefactos os que com eles se cruzam, vão para um ginásio encestar umas bolas e para um piscina partilharem umas braçadas.
Volta a cair mais uma noite sem que regressem às respetivas casas ou empregos e passam horas novamente num bar onde incitam quem ali está presente a cantar. Particularmente uma mulher madura a quem humilham com a acusação de não mostrar qualquer sentimento.
O excesso de alcool empurra-os para casa de banho onde vomitam e fazem uns dos outros os alvos das suas acusações. 
Só na manhã seguinte é que um deles, Harry, arrisca-se a ir a casa, mas depara-se com a fúria da mulher e da sogra a quem agride, só sendo travado pelos amigos que, da rua, se aperceberam do banzé.
Gus também arrisca voltar ao sei consultório de dentista, cuidando de uma paciente que ri descontroladamente por causa dos nervos. Mas já Harry convence os outros dois a irem passar uns dias a Londres, na secreta esperança de aí encontrarem alguma resposta para as contínuas ações.
Entre o casino e os quartos do hotel para onde convidam raparigas recetivas aos seus convites, nenhum deles encontra verdadeira satisfação. Começa a crescer, incontornável, o desejo de regressarem a casa para reencontrarem as antigas rotinas.
E é isso que sucede com a sensação de já não sobrarem respostas para a comum incapacidade para serem miseravelmente infelizes.
Não será um dos meus Cassavetes preferidos, mas «Husbands» utiliza os improvisos dos atores como estratégia para ir construindo o argumento. Por isso mesmo existe a sensação de durar demasiado e tender para uma heterogeneidade entre momentos mais intensos e outros sem grande interesse.

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