domingo, dezembro 11, 2016

(DIM) As noivas do ópio

Por muito perversa, que seja a nossa imaginação, nem conseguimos imaginar as angústias por que passam as crianças afegãs raptadas aos pais por estes não conseguirem pagar as suas dívidas aos traficantes de ópio com quem se haviam comprometido a entregar as suas colheitas, nem tão pouco conjeturar a que sevícias e abusos sexuais são sujeitas nesse limbo em que desaparecem para nunca mais serem vistas.
A reportagem de Najibullah Quraishi data de 2012 e denuncia como a política de erradicação dos campos de ópio teve nas crianças as suas principais vítimas com inúmeros casos de desaparecimento dos filhos dos camponeses depois de os polícias locais, escoltados por tropas da Nato, destruíram as plantações possibilitadas pelo seu endividamento junto dos traficantes.
Pode-se sempre pensar que eles não se eximem de parte significativa da culpa, porquanto poderiam buscar sustento em culturas alternativas de cereais. O problema é a disparidade de preço de venda destes, que não chega a 1/10 do correspondente ao mesmo peso em ópio.
A reportagem também denuncia a coligação de interesses entre os traficantes e os talibans por eles financiados, e que vão congregando em seu favor o descontentamento dos aldeões incapacitados de proverem ao sustento das respetivas famílias.
Existe um cinismo evidente nos ocidentais, que acolitam o governo afegão nesse combate à droga até agora declaradamente ineficaz. Porque conhecem bem demais as consequências das suas ações nos que são mais fracos e não se conseguem defender e, no entanto, não ponderam revê-las para alternativas mais eficazes.
Ao ver esta reportagem compreende-se melhor porque continua o Afeganistão a ser um atoleiro onde, depois de outros sucessivos invasores, também os norte-americanos acabaram por não se saírem melhor... 

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