sexta-feira, dezembro 02, 2016

(DIM) «O Agente Secreto» de Alfred Hitchcock (1936)

Em 1935 Alfred Hitchcock assinou uma das suas mais elogiadas obras-primas - «Os 39 Degraus» - onde já revelava o característico sentido da montagem, o equilíbrio perfeito entre suspense e distensão, uma narração dinâmica e sequências visuais memoráveis.
«O Agente Secreto» foi o título que se seguiu na filmografia do mestre sem que tenha conseguido idêntica reputação. Pelo contrário, ombreando com o anterior, é tido como obra menor
É, porém, injusta essa subestimação, tendo em conta a capacidade de divertimento desta comédia de espionagem. Porque a capacidade para fazer rir sobrepõe-se ao suspense, como se verifica logo na primeira cena, com uma cerimónia fúnebre comentada sarcasticamente pela maioria dos nela envolvidos, todos dentro do segredo de estar ali um caixão vazio.
Tendo a ação a passar-se em 1916 essa cerimónia destina-se a honrar o «desaparecimento» de Edgar Brodie (John Gielgud), um espião e escritor envolvido na missão de se dirigir à Suíça para aí desmascarar e matar um inimigo a soldo dos alemães. Acompanhado pelo General (um assassino sem escrúpulos interpretado por Peter Lorre) ele encontra-se no destino com Elsa (Madeleine Carroll), destacada para aí fazer o papel de sua esposa.
Rapidamente identificam o suspeito mas, apaixonando-se um pelo outro, Edgar e Elsa duvidam cada vez mais da razão de ser da missão a ambos atribuída. A relação amorosa sobrepõe-se ao contexto da espionagem cuja subsistência se deve a tão-só fornecer as peripécias ao argumento.
Embora os dois protagonistas sejam interpretados por nomes prestigiados do teatro e do cinema britânico, é Peter Lorre quem mais atenção merece num papel distinto do tradicional mauzão, porque surge alistado do lado dos bons.
Quando instado a comentar este filme, Hitchcock reconheceu que o filme não correspondera ao que pretendia, e explicou porquê: “num filme de aventuras, a personagem principal deve ter um objetivo, que é vital para a evolução do filme e para a cumplicidade do público, convidado a apoiá-lo e até ajudá-lo a cumprir aquilo de que o incumbiram. Ora, neste filme, ele tem uma tarefa a cumprir, mas ela repugna-lhe e procura esquivar-se.”
De facto,  à medida que a história progride, e que o casal principal se vai mutuamente atraindo, ele vai-nos desinteressando. Ambos sabem o que querem: dedicarem-se à relação amorosa sem perderem tempo a procurar e matar o eventual espião contrário. Isso traduz-se num desequilíbrio entre a comédia romântica e o suspense da intriga de espionagem. A importância dada ao primeiro aspeto durante três quartos do filme, atenua a intensidade da sua conclusão, mas ele continua a ter bastante mais qualidades que motivos de censura.


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