Bem podem os críticos literários e os marketeers das editoras enunciar maravilhas, que a escrita de Roberto Bolaño em nada me impressionou à primeira tentativa de o ler.
Pode-me, porventura, sensibilizar o seu esforço pessoal numa escrita obsessiva, passível de garantir os direitos de autor aos filhos menores, que sabia ir deixar órfãos em breve. Mas «O Terceiro Reich» é um romance banal em forma de diário, assumido por um narrador alemão, Udo Berger, cuja ocupação principal é o desenvolvimento de jogos de estratégia.
É para aprofundar as virtualidades de um deles, dedicado às batalhas militares do Terceiro Reich, que ele vem de férias para a Costa Brava catalã, alojando-se coma namorada Ingeborg no mesmo hotel aonde costumava acompanhar os pais nos verões da sua adolescência.
Desse passado recorda a paixão pela bela Frau Else, a mulher do agora quase moribundo dono do estabelecimento.
A forma como o equilíbrio inicial irá ser perturbado não terá nada a ver com esse potencial triângulo amoroso entre ele, a frívola Ingeborg e a carente Else.
O problema, diria mesmo o inferno, serão os outros. A começar por outro alemão, Charly, o instável praticante de surf e de muitas bebidas, que tanto parece afeiçoado à namorada Hanna, como a sujeita a odiosas agressões físicas.
Antes de se afogar num acto de possível suicídio, Charly ainda sujeita Udo ao convívio com dois proletários sem eira nem beira, o Lobo e o Cordeiro, que só pensam na melhor forma de se deitarem com as alemãs. Sem o conseguirem, claro, que elas estão longe de se mostrarem para aí viradas.
Ou sobretudo com o Queimado, um jovem disforme responsável pelo negócio de aluguer das gaivotas da praia, com o rosto marcado pelas consequências de um possível incêndio, e que se torna no adversário de Udo no jogo entre os exércitos nazis e as forças aliadas.
Será um desafio em que depressa parece estar algo mais em causa do que a movimentação de pedras e de cartas no tabuleiro. Pode estar a própria vida de Udo, já que o Queimado será um obsessivo antinazi que, se ganhar, quererá sujeitar o derrotado a um improvisado tribunal de Nuremberga em areias catalãs. Contando para isso, suspeita Udo, com as orientações do moribundo esposo de Else, que agiria por mero ciúme.
Como campeão alemão da modalidade, Udo cedo ganha avanço. A Wehrmacht avança decididamente pelos países orientais penetrando seriamente na União Soviética, depois de já ter ocupado a França.
Indo mais longe do que os próprios acontecimentos históricos, Udo faz avançar as suas tropas para solo inglês e ibérico, em convergência com o Afrika Korps no norte de África. Mas, em 1942, já os exércitos alemães estagnam às portas de Leninegrado e de Estalinegrado. Para começarem a recuar aceleradamente até à derrota final. Mas, por essa altura já o corpo de Charly dera à costa e fora reenviado para a Alemanha, aonde igualmente estavam Hanna e Ingeborg.
Na sua paranóia, Udo rejeita os conselhos contínuos de Frau Else ou do seu amigo Conrad para regressar a casa, como se tivesse de viver até ao fim o desiderato do jogo.
Só então, e sem ocorrer o seu assassinato pelo Queimado conforme temera, é que ele regressa. Para arranjar novo emprego administrativo numa fábrica e encontrar um recuperado equilíbrio pessoal donde surge erradicado o interesse por aquele estranho jogo.
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