Uma das vantagens de se frequentar uma outra cinematografia e´que tudo muda em relação aos estereótipos a que estamos habituados, quando vemos demasiados filmes norte-americanos, ingleses, franceses ou mesmo portugueses. Existe uma outro ritmo narrativo, uma forma distinta de fotografar a paisagem, ou seja a sensação de se frequentar outro universo idiossincrático.
«Maria Am Wasser», que mereceu um título francês mais elucidativo («O Afogado, que estava bem vivo») aborda precisamente os fantasmas de uma Alemanha (Oriental), que já não existe, aonde se empolava a importância da paz mundial, da cultura para os jovens e as comemorações por tudo e por nada, mas também aonde agentes da polícia política (Stasi) espreitavam de cada esquina.
E também a ganância pelo dinheiro depois da queda do Muro, que pode tornar justificável um comércio tão tenebroso como o da venda de crianças órfãs (ou dadas como tal) ou o da criação industrial de visons para produzir casacos de peles.
A chegada de Marcus à pequena aldeia de Neusorge depois do seu suposto afogamento vinte anos atrás, irá constituir uma ameaça para todos quantos pretendiam tapar os idos pecados privados sob a capa de supostas virtudes públicas.
Marcus vem procurar a razão para nunca ter sido amado por essa Maria, que alimentava as paixões de três pretendentes sem verdadeiramente se dar a nenhum. Mulher egoísta e fria, essa Maria nunca terá sido, nem nunca será a mãe de que Marcus careceria. Mas, em compensação, ele consegue pôr novamente a funcionar o órgão da igreja aonde pode ser tocada a maravilhosa música de Smetana e sair dali com o amor de uma jovem mulher, que fora aí resgatar o seu filho perdido. Alena será, pois, para Marcus, a projecção da mãe, que nunca tivera e que agora conquistava enquanto companheira para o seu futuro.
Acresce que, para além de alguma incomodidade com alguns meandros do argumento, aparentemente incompreensíveis para a nossa cultura, o espectador terá de se render sem reservas à fotografia cuidada das margens do rio Elba.
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