O problema da maioria dos filmes norte-americanos é o maniqueísmo de que se revestem quase sempre, com os personagens reduzidos a estereótipos e o final previsível com os que estão desviados da norma convencional a pagarem os custos dessa diferença.
A história de «Nem Por Nem Contra» poderia enquadrar-se perfeitamente nesse estereotipo hollywoodesco: uma rapariga, operadora de câmara numa televisão, entra quase por mero acaso no quotidiano de um gang de ladrões, com quem irá colaborar num assalto arriscado de que será a única a vir a usufruir o correspondente paraíso. No entanto, a polícia quase é uma presença virtual, reduzida à mínima expressão aquando da repressão final. E, mais do que a preparação dos golpes, o filme de Klapish preocupa-se em definir personagens suficientemente lúcidos para serem eles próprios a lembrar a necessidade de não ver a realidade apenas numa lógica de preto e branco. Há assim o machismo dos homens, a falta de escrúpulos quando se colocam opções arriscadas, e a lenta transformação da protagonista, essa doce Cathy transformada numa assassina impiedosa. E há também esse olhar derradeiro dela para a câmara: chegada a um abrigo tropical de língua espanhola, mas completamente sozinha, sentir-se-á ela feliz com a sua nova situação?
Depois da «Residência Espanhola», que tanta fama lhe deu, Klapish confirma o seu estatuto de realizador de filmes de entretenimento inteligente, aonde será sempre possível descortinar algo mais do que a mera história de um assalto, que corre mal para todos quantos nele colaboram, excepto para uma mulher frágil, que atravessou todas as fases evolutivas até descortinar em si uma insuspeitada força interior...
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