segunda-feira, janeiro 10, 2011

Filme: PARIS JE T’AIME

Paris e Nova Iorque já tiveram o seu título, Xangai vem aí a caminho.
Está em curso um projecto cinematográfico, que passa por convidar diversos cineastas a realizarem pequenos episódios situados em tais cidades, delas dando um painel muito diversificado de retratos, pressupondo-se um espelho fiel da sua identidade no mosaico assim resultante.
Porque são histórias muito curtas não chegam a empolgar, mas, por outro lado, na sua multiplicidade suscitam interessada curiosidade.
Passemos então em revista os episódios deste filme em concreto. O primeiro é assinado por Bruno Podalydés e passa-se em Montmartre. Um solitário desesperado por não encontrar companheira que o queira vê a sua sorte grande cair-lhe mesmo à beira do seu carro acabado de estacionar. É uma desconhecida a contas com um desmaio momentâneo e pronta a interessar-se pelo seu salvador.
Situação semelhante acontece também a um jovem, que socorre uma rapariga árabe orgulhosa do véu com que tapa os cabelos, mas que se magoa nas mãos ao tropeçar numa pedra. Esperando-a à saída da mesquita vê o avô dela a convidá-lo para que os acompanhe…
Alguns episódios têm a ver com conversas de engate como ocorre no de Gus Van Sant: um rapaz está obviamente interessado noutro, que conhece num atelier artístico. mas este nada percebe do que ele lhe diz, já que não fala francês. Mas ao dizerem-lhe do que se trata ei-lo a trotar pelas ruas em busca desse possível amor.
Já Steve Buscemi tem muito menos sorte no episódio dos irmãos Cohen: olhando para uma rapariga do outro lado do cais do metropolitano vê-se agredido pelo ciumento namorado dela. Servira afinal para eles viverem um jogo amoroso a que parecem habituados…
Walter Salles é o autor de um dos episódios aonde se trata da emigração: uma jovem latino-americana deixa o seu bébé num infantário para chegar a tempo ao emprego. Que é o de cuidar dos bebés alheios.
Já o episódio de Christopher Doyle sobre um vendedor de produtos de cosmética é tão surreal, que acaba por se revelar um dos menos interessantes.
O japonês Nobushiro Suwa escolhe a via mística com Juliette Binoche no papel de uma mãe a contas com o sofrimento da perda de um filho. Seguindo a sua voz pelas noctívagas ruas desertas da Place de la Victoire ela pacifica-se ao ver o miúdo levado para o Além por um cowboy de sorriso reconfortante (Willem Dafoe).
Continuando em opções algo mágicas, Sylvain Chomet põe um miúdo a explicar como os pais se conheceram na prisão: e ambos são dois mimos, que convivem de forma nem sempre muito facilitada com os demais.
Alfonso Cuaron  leva-nos para o equívoco: julgamos que Nick Nolte vai conhecer o caprichoso genro, mas afinal a filha apresenta-o ao seu bebé, que ele ficará a guardar enquanto ela sai com uma amiga.
Olivier Assayas evoca o que se passou realmente com Kristin Dunst quando veio rodar o filme de Sofia Coppola sobre Maria Antonieta a Paris. A droga no caminho das estrelas de Hollywood…
Outro tipo de delinquência é a abordada por Oliver Schmitz, que ilustra os últimos momentos da vida de um pobre nigeriano, que apunhalado para ser espoliado da sua viola, tem a oportunidade de contar com a rapariga a quem ama a dele cuidar no seu primeiro dia como paramédica...
O episódio de Richard La Gravenese junta dois actores maravilhosos, Bo Hoskins e Fanny Ardant, enquanto casal maduro disposto a apimentar a sua relação. Nem que para tal promovam um encontro num bar com salas reservadas para o strip tease.
Na vertente fantástica temos a relação amorosa de uma vampira por um jovem a quem salva mordendo-lhe o pescoço (realização de Vincenzo Natali) e a forma como o fantasma de Oscar Wilde permite a um desajeitado noivo recuperar a companheira, por momentos decidida a inflectir caminho por não ser motivada para o lado divertido da vida. Este episódio era assinado por Wes Craven.
Aproximando-nos do final temos outro equívoco: um jovem cego julga que a namorada está a romper com ele pelo telefone e, afinal, ela apenas está a pedir-lhe a opinião para a forma como irá desempenhar mais um papel teatral. Ela é Natalie Portman e a realização (talvez a mais imaginativa de todas as criadas no filme) de Tom Tykwer.
Depardieu interpreta e realiza uma verdadeira homenagem a John Cassavets recorrendo dois dos seus mais emblemáticos actores: Gena Rowlands e Ben Gazzara. E a história é a de um divórcio anunciado para que ele possa desposar a jovem namorada, já com uma gravidez em curso.
E a despedida com uma matrona de Denver intimidada por desvendar Paris sem a cumplicidade de quem possa amar, mas descobrindo afinal que apaixonando-se por Paris, também por ela se sente correspondida.
Seguindo esta descrição constatamos a existência de um fio condutor, que dá consistência a todo o conjunto...

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