segunda-feira, janeiro 31, 2011

Filme: NAS NUVENS de Jason Reitman

Quando o pai de Jason Reitman realizava comédias românticas há mais de vinte anos («Dave», «Caça Fantasmas», etc) elas seguiam um guião rico em peripécias amorosas, mas sempre seguindo a regra final de «boy meets girl».
Chegamos a esta segunda década do século XXI e tudo mudou. Até para esse universo de relacionamentos  entre homens e mulheres. Quando a crise económica traz como pano de fundo uma ampliação do fenómeno do desemprego, sobretudo entre os mais velhos, os menos qualificados e, sobretudo, as mulheres separadas ou divorciadas.
Clooney faz de Ryan Bingham, um personagem que se cola a muitas das características atribuíveis a ele enquanto pessoa:  solteiro inveterado, com uma verdadeira fobia pela possibilidade de vir a ser aprisionado numa casa, numa família.
Voando quase onze meses por ano, ele anda de empresa em empresa de todos os estados norte-americanos a anunciar o despedimento dos que vão sendo atirados borda fora pelos seus empregadores. Sem estados de alma, que pudesse fazê-lo sentir-se penalizado pelo lado (i)moral da sua actividade.
Duas mulheres irão, porém, absorver os seus dias: uma é Natalie, uma recém-licenciada, orgulhosa das suas boas notas no curso e das ideias inovadoras a aplicar naquela indústria. Por exemplo o despedimento em vídeo-conferência a uma confortável distância do interlocutor.
A outra é Alex, uma predadora como Ryan, também ela a competir para os dez milhões de milhas aéreas, que garanta o cartão dourado só conseguido até então por seis privilegiados, e por quem ele sente a vontade de virar costas a todas as suas convicções. Até ao dia em que lhe vai bater à porta em Chicago e a descobre com marido e filhos…
Natalie também irá passar por uma completa inversão do seu percurso de vida previsível ao confrontar-se com o suicídio de uma mulher a quem  anunciara o despedimento.
No final, Ryan volta à sua interminável sequela de viagens entre a Costa Leste e a Costa Ocidental, encarando o seu vazio existencial com menos comprazimento do que sentia, quando o encontramos no início do filme.
Está, pois, longe de se verificar aqui um happy end. Pelo contrário até num suposto filme de entretenimento, Hollywood não se exime de mostrar o lado mais obsceno do capitalismo selvagem. Aquele em que as pessoas são descartáveis em nome da sacrossanta instituição do lucro de  uns poucos privilegiados.

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