domingo, janeiro 30, 2011

Filme: AVATAR de James Cameron

Aquando da estreia do filme nas salas de cinema, ele passou-nos ao lado.
Desconfiamos sempre de grandes êxitos, que se anunciam com trombetas e nos querem à viva força atrair. Até porque se revelam quase sempre produtos industriais bem concebidos, mas vazios de ideias.
Mas pode-se dizer que «Avatar« constitui uma excepção cumpridora da regra. Sobretudo porque, visto num dos canais telecine, apenas sugere o efeito tridimensional então exibido nas salas de cinema, e que terão potenciado o seu sedutor aspecto visual.
Deu, assim, para considerar que teria valido a pena seguir a turba e vislumbrado essa anunciada tendência de um cinema diferente, mais tecnológico, dotado de meios para credibilizar os sonhos psicadélicos mais intensos.
Timothy Leary, se fosse vivo, não deixaria de se entusiasmar com a capacidade do cinema vir a garantir os mesmos efeitos visuais dos seus delírios com LSD.
Quanto à história do filme em si, segue os cânones de tanto cinema de Hollywood: há bons e maus e aqueles acabam por vencer os terríveis inimigos.
O singular neste argumento é o tipo de leituras colaterais, que permite ao estar ainda tão presente a invasão do Iraque ou a intervenção no Afeganistão.
Porque os humanos são tão cúpidos na possibilidade de extraírem a riqueza mineral no solo do planeta Pandora quanto Dick Cheney e os interesses petrolíferos por ele representados nos poços do Médio Oriente.
E a espiritualidade do povo Na’vi pode evocar a crença islâmica dos ocupados pelas tropas comandadas por Donald Rumsfeld.
A exemplo do sucedido naqueles teatros de guerra bem concretos, os humanos têm um poderio militar incomparável em relação aos autóctones e chefes militares tão cabeçudos como Tommy Franks.
Mas os desprotegidos habitantes do planeta ocupado acabam por encontrar forma de expulsarem o invasor, mesmo que graças à ajuda de um ex-inimigo, esse Jake Scully, que se torna num deles, quando está ligado à máquina da drª Grace Augustine…
No final poderíamos lançar vivas pela vitória daquele arremedo de revolução bolchebique e pela expulsão dos interesses imperialistas.
Mas será que os milhões de espectadores norte-americanos terão pressentido sequer, o quanto ali se espelhava o pior da sua ideologia dominante?

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