As primeiras cenas do filme de Brillante Mendoza colocam à nossa frente uma adolescente, que espreita a sua nudez ao espelho e se confessa enamorada.
Por si? Por alguém em quem está a pensar enquanto se vê? Não sabemos, mas o tom do filme está dado numa ou noutra direcção: por um lado temos personagens obcecados pela realização física do seu desejo, seja sob a forma da atracção clandestina (entre Nayda e um dos projeccionistas do cinema familiar), sob a frustração vingativa (de Nanny Flor decidida a fazer condenar o ex-marido em tribunal pelo seu adultério), sob a ilusão amorosa (da engravidada Merty por Alan) ou, sobretudo, do sexo comercializado. E este acaba por ser dominante, porque estamos numa antiga sala de cinema reciclada na projecção de filmes pornográficos e em cuja escuridão pares, maioritariamente homossexuais, trocam fluidos a troco de dinheiro.
A outra variante por onde o filme desenvolve o seu tema é o de cada um estar entregue apenas a si mesmo, sem estabelecer vínculos efectivos de afecto para com quem quer que seja. A sociedade filipina é mostrada no que tem de mais miserável, dividida entre a relevância de se sobreviver nem que seja roubando, e iludindo-se num misticismo cristão bem evidenciado por santos e procissões incapazes de trazerem consigo algum consolo.
Realizado com poucos meios, Serbis vale pela utilização do espaço em que maioritariamente é rodado, com escadas que sobem e descem num labirinto sórdido, aonde a sensação de nojo é constante. E onde o ruído intenso do movimento de carros e motocicletas nunca cessa...
É nesse antro, que um miúdo se converte num voyeur apostado numa rápida educação sexual, espreitando as cenas de sexo explicito ali bem presentes em cada recanto. Claro que ele replica o nosso próprio papel em tudo isso: limitamo-nos a espreitar a vida de outrem, através das lentes dos nossos padrões morais, mas tolhidos na nossa incapacidade em contribuirmos para a alteração efectiva deste estado das coisas…
Apesar do entusiasmo de alguma crítica pelos filmes de Mendoza, este sabe-nos manifestamente a pouco...
Sem comentários:
Enviar um comentário