domingo, março 12, 2017

(DIM) Nos gelos do Ártico

Dos anos que passei nas latitudes árticas ou no inóspito inverno canadiano, avançando rio São Lourenço acima graças ao apoio de quebra-gelos à nossa proa, ficou-me o fascínio pelas paisagens de uma brancura imaculada, dominada pelos glaciares ou pelo pack ice. O frio era medonho, quase o sentindo como agulhas a espetarem-se-me nos olhos, mas a serena quietude à nossa volta fazia-me sentir a singularidade de tal experiência. Por isso mesmo, quando deparo com algum filme ou documentário, que me devolvem algo desse inexplicável sortilégio, rendo-me à sua visão com a disponibilidade de quem nele procura o reencontro com um tempo definitivamente perdido.

Acaba de se estrear um belo documentário intitulado «Nos gelos do Ártico» da autoria dos realizadores Pia Grzesiak et Dirk Weiler. Testemunha a expedição científica do veleiro francês Vagabond pelo oceano setentrional, ao serviço do climatólogo alemão Jochen Halfar, que pretende recolher amostras de algas seculares com o objetivo de delas recolher dados fiáveis sobre a evolução da banquisa e da meteorologia no último milénio. O que significa mergulhar em águas geladas pelas aberturas escavadas no imenso lençol branco.
Mas o filme serve, igualmente, para conhecer a família, que constitui a tripulação do veleiro - o pai, a mãe e as duas filhas ainda muito novas. Além de ganharem a vida com esta atividade, transformaram-na numa exaltante aventura pelas regiões mais belas, mas também menos hospitaleiras, que podemos encontrar no nosso planeta. Trata-se de um exemplo lapidar do principio de haver gente para tudo, até para arriscar diariamente as suas vidas e as das filhas perante os perigos das tempestades e dos ursos polares.
Esteticamente os realizadores só terão sentido a dificuldade da escolha perante tantos cenários de beleza superlativa com que se foram deparando nas semanas em que decorreram a rodagem deste filme.


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