sábado, março 25, 2017

(A) Pissarro; entre a grandeza e a humildade


Pissarro foi o primeiro dos impressionistas quanto mais não seja por ser dez anos mais velho do que Monet ou Cézanne, vinte e nove do que Seurat ou trinta e três se considerarmos Signac.
Da vasta obra vale a pena aqui realçar cinco quadros. O primeiro data de 1870 e capta a neve  da estrada de Versailles, lembrando uma obra posterior de Monet, «Avenida Saint Denis, Argenteuil no inverno», que muito lhe deve em influência.
Ambos partilham as ideias e Pissarro adota do amigo o conceito de séries sobre o mesmo tema: enquanto Monet focaliza a atenção nas suas catedrais de Rouen, aquele multiplica as versões sobre a Ponte Boeildieu ou o cais da Bolsa, prenúncios da reflexão sobre a forma como a luz evolui numa paisagem urbana, que evidencia nas conhecidas representações parisienses do Pont-Neuf ou da Praça do Théâtre Français.
Pissarro mostrava que, tendo começado por ser o mestre, não desdenhava a influência dos antigos discípulos..
O quarto quadro é o admirável «Praça do Velho Cemitério em Pontoise», de 1872, que pintou quando estava hospedado num hotel em Saint-Ouen, do outro lado do rio. Cézanne, que também ali estava, saiu do período sombrio, abandonando as cores escuras e abrindo-se à luz graças ao vizinho, que adotara como pai espiritual.
O quinto quadro - «A Colheita das Maçãs» - data de 1886, quando Pissarro tornara-se no responsável pela Exposição dos Impressionistas.  Desejoso de renovar o estilo, descobrira as obras de Seurat e Signac, que pareciam aprofundar a sua própria estética. Por isso bateu-se pela entrada de «Uma tarde na Ilha da Grande Jatte» na exposição, e ele próprio confessava-se decidido a criar o neoimpressionismo. Infelizmente a hostilidade do agente, Durand-Ruel, dissuade-o dessa direção.
Quem dele deu testemunho descreveu-o como um grande pintor sempre pronto a ajudar os outros, e suficientemente modesto para inspirar-se em artistas mais novos do que ele.
Lawrence Gowing, que foi um dos principais estudiosos de Cézanne, situa o ano de 1872 como o da grande viragem na obra do artista e atribui-a a dois fatores essenciais: a Hortense que, por essa altura o fez pai, mas também pelo convívio com Pissarro. Opinião reveladora da sua admirável personalidade.



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