Não seria filme por que tivesse grande interesse não fosse o caso de ser interpretado por Sylvie Testud, que considero ser uma das mais interessantes actrizes francesas actuais. E, afinal, mesmo apesar do meu ateísmo arreigado não dei por mal empregado a hora e três quartos investida a ver o filme.
A história conta-se em poucas palavras: uma mulher ainda jovem, vitimada pela esclerose múltipla, não consegue dominar qualquer movimento, dependendo dos outros, quer para comer, quer para se movimentar na cadeira de rodas, quer para se deitar.
Durante uma peregrinação a Lourdes ela reencontra um elemento da Ordem de Malta, que já apoiara um grupo em que se integrara durante uma visita cultural a Roma. E sente reavivar em si o interesse afectivo por ele. Com tal determinação que, seja por remissão provisória da doença, seja por qualquer efeito miraculoso relacionado com o espírito do lugar, ela consegue retomar os movimentos e andar com o auxílio de uma bengala.
Durante um dia o seu caso torna-se num acontecimento na cidade de Bernadette: há quem considere injusta a sua condição de miraculada tendo em conta a pouca convicção da sua fé, há quem se renda ao fenómeno como confirmação da força divina. Ainda assim, os médicos do gabinete encarregado do reconhecimento dos milagres, alertam para a probabilidade reduzida do sucesso. E, de facto, é isso que acontece: depois de consagrada como peregrina do ano e de dançar momentaneamente nos braços do seu amado, ela volta a cair e a conformar-se com o retorno à cadeira de rodas.
Comenta então uma das companheiras de peregrinação: «Se Deus a salvou e depois a condenou, isso é uma imensa crueldade!». Ao que outra comenta: «Se a salvação não vem d’ Ele, de quem virá?»
E essa é a maior virtude do filme: num tema muito delicado, conseguir um equilíbrio bastante para que crentes e não crentes encontrem ali um discurso identitário.
O que não é virtude de somenos!
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