A colonização do Brasil desapossou os índios, que aí viviam, das suas terras, cultura, língua e memória.
A chegada da frota de treze barcos de Pedro Álvares Cabral em 22 de Abril de 1500 é o corolário lógico do Tratado das Tordesilhas, assinado seis anos antes entre os monarcas português e castelhano, e que atribuía tais terras ao primeiro.
A primeira reacção dos portugueses aos índios pataxós, com que começam por contactar, é a de surpresa. Na sua crónica de achamento do Brasil, Pêro Vaz de Caminha evidencia o espanto de quem se confronta com uma nudez perfeitamente natural, como se aquela gente nunca tivesse passado pela experiência bíblica do pecado original.
No entanto, quando Américo Vespúcio aí volta, três anos depois, a visão encantada dá lugar à de uma veemente crítica à sua suposta selvajaria assente em actos antropófagos. Que justificaria assim a sanha evangelizadora, traduzida na chegada em força dos missionários jesuítas, que abririam caminho aos aventureiros sem escrúpulos aí dispostos a explorarem as riquezas prometidas, a começar pelo tal pau-brasil, razão de ser do nome dado ao território.
Depois do entusiasmo inicial, os jesuítas, a começar por Manuel da Nóbrega, deparam-se com matreiras resistências culturais dos supostos selvagens, que os colonizadores pretendiam escravizar.
É para acelerar a conversão religiosa dos índios e a divulgação dos Evangelhos, que Anchieta procura criar uma língua geral nativa, baseada nos seus diversos dialectos, estruturados depois numa gramática latinizada.
Em 1600 os índios ter-se-ão quase por completo escapulido do litoral, embrenhando-se para o interior e, um século depois, dos quatro milhões existentes em 1500, esses nativos estavam reduzidos a metade. Mesmo considerando que os portugueses eram então apenas trinta mil…
No século XIX, os portugueses vão derrotando as diversas tribos e forçando-as a regressar para pequenas reservas no litoral (Prado, Porto Seguro).
É só nos últimos anos, com a introdução das línguas ameríndias nas escolas, que muitas delas, que foram sobrevivendo na clandestinidade, voltam a surgir à luz do dia. Mas para esses povos a recuperação da sua identidade já é manifestamente tardia: hoje apenas se cingem a 0,2% do total da população brasileira…
O documentário de produção francesa, mas realizado por um brasileiro, não é particularmente negativo para o papel dos portugueses. Mais do que os aventureiros em si, quem mais terá contribuído para o genocídio cultural das populações índias terão sido os missionários apostados em convertê-las à força...
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