segunda-feira, agosto 22, 2011

Livro: AGOSTINHO de Alberto Moravia


Nos anos trinta a literatura italiana foi fértil em contos, novelas e romances dedicados a personagens infantis e juvenis.
Alberto Moravia não deixaria de contribuir para essa tendência com duas novelas, que anunciam «Agostino» (1945) e «A Desobediência» (1948): em «Inverno de doente» (1930) ele inspira-se na sua própria estadia num sanatório e descreve a relação sadomasoquista entre um adolescente introvertido e um adulto com quem partilha o quarto; em «A Queda» (1940) revela a iniciação amorosa de um jovem convalescente em férias.
A criação de «Agostino» data logo do início da guerra quando, para escapar aos riscos inerentes à sua ascendência judaica, Moravia e Elsa Morante se vão refugiar em Capri. No entanto, o livro só será publicado depois da queda de Mussolini.
Trata-se de um drama sobre a perda da inocência relacionada com uma iniciação amorosa inacabada. Escrito na terceira pessoa centra-se na evolução sentimental e psicológica do protagonista, um jovem oriundo da burguesia que, aos 13 anos irá conhecer a maior das desilusões: quando conta passar as férias de Verão com a adorada mãe, vê-a abandoná-lo em proveito de um jovem com quem se encontra na praia.
Entregue a si próprio, Agostino irá conhecer uma dupla iniciação - sentimental e social - quando passa a contactar com um gangue de jovens delinquentes liderados por um velho pedófilo. O jovem burguês irá viver sentimentos desencontrados, ora de fascínio, ora de repulsa, por esses jovens cínicos, que o ajudam a dessacralizar o seu ideal materno. Assim sente-se ridículo, quando perde  no braço de ferro com o belo Sandro, ou é surpreendido pelos ciúmes do negro Homs (o nome já indicia a tendência…), quando o pedófilo o convida para um passeio de barco.
Agostino escapa à violação cuja possibilidade nem sequer lhe passava na cabeça, mas ninguém no bando acredita nele, o que o deixa desesperado. No epílogo um camarada leva-o a um bordel para que se «torne um homem», mas ele escusa-se.
A frase final do romance conclui: mas ele ainda não era um homem e muitos tempos infelizes ainda passariam até que chegasse a tal.
O romance denuncia o bem conhecido sentimento de inferioridade e de culpabilidade de Moravia para com os mais pobres por ter sentido a responsabilidade da sua classe social na ascensão e afirmação do fascismo durante tantos anos...


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