sexta-feira, agosto 12, 2011

Documentário: ELENA GRUBEROVA de Claus Wischman e Stefan Pannen


Confesso que não simpatizo com quem se escapuliu do antigo bloco soviético. Sobretudo sendo artistas consagrados nos seus países de origem, que neles tanto haviam investido e depois privados do seu talento devido à atracção pelo vil metal.
Edita Gruberova foi um desses casos: nascida numa família pobre da antiga Checoslováquia, viu o regime de então reconhecer-lhe o talento, incentivar-lhe os estudos, lançá-la na alta roda do teatro operático e, depois, aproveitando essa oportunidade, ela mudou-se de armas e bagagens para o Ocidente.
Só se lhe perdoa o oportunismo pela sua belíssima voz, por todos reconhecida quanto à sua espantosa coloratura.
O documentário segue-lhe os passos enquanto prepara diversas interpretações da ópera «Lucrécia Bórgia», que merecerá, sobretudo no Liceo de Barcelona, um espantoso reconhecimento dos seus mais entusiásticos fãs. Mas, além desse acompanhamento persistente, os realizadores também intercalam imagens de interpretações suas de há muitos anos, quando começou como cantora de ópera em Bratislava (tinha então 21 anos) e nas suas sucessivas fases de vida em Viena (aonde ficou memorável o seu papel de rainha da noite na «Flauta Mágica» de Mozart) ou em Munique.
Conhecida pela sua franqueza, Edita é descrita por um dos seus admiradores como uma cantora capaz de pôr na linha um director de orquestra ou um encenador menos dotado. A paciência não será uma das suas maiores qualidades como se comprova na sua expressão facial num dos ensaios em Barcelona.
Mas tudo se lhe perdoa quando nos encantamos com a sua interpretação superlativa da ária «Casta Diva» da «Norma» de Bellini.
Personalidade riquíssima de conteúdo a desta soprano que, provavelmente, nunca teremos oportunidade de ver actuar ao vivo...

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