domingo, agosto 14, 2011

Documentário: O PROBLEMA DAS MELGAS E OUTRAS HISTÓRIAS De Andrey Paounov e Lilia Topouzova (2007)


A brigada de desinfecção, encarregada de matar melgas e mosquitos em Belene, tem muito que fazer, mesmo recorrendo à sua fórmula secreta. Tal como o têm os habitantes da pequena vila búlgara, que gostam da quietude da terra, mas são obrigados a essa guerra constante com os agressivos insectos, nem que seja com o aspirador.
Os 9826 habitantes de Belene vivem na margem direita do Danúbio, mesmo em frente da ilha de Persin, que é uma reserva ecológica aonde estão protegidas dezenas de milhares de aves, e perto de quatro grandes pântanos aonde germinam as sucessivas pragas voadoras.
Mas as histórias de Belene não se cingem a esse problema: outras mantém a actualidade a começar pelas memórias dos tempos comunistas, quando existia aí uma colónia penal conhecida pela sua severidade para com os dissidentes do regime. Julia, uma antiga carcereira, que estivera presa durante três anos por homicídio, nega essa versão da história e suicidar-se-á durante a rodagem deste documentário, cansada de uma luta desigual contra a doença de Parkinson.
E há também a central nuclear abandonada, que o poder actual promete reactivar, mas sem que ninguém acredite nos benefícios dela retiráveis pela população.
Dos tempos idos, quando a cooperação entre países comunistas era um facto, resta um cubano, que não se decidira voltar para o Caribe. No entanto, na época anterior à queda do Muro estavam por ali centenas de russos, cubanos e vietnamitas!
Hoje quase todos os jovens zarparam para outras paragens, enquanto os que ali escolheram ficar se entretém com a pesca ou com a caça ao javali.  E outras pitorescas criaturas vão dando algum colorido à vida dos concidadãos, como o padre italiano, que canta «O Sole Mio» para o seu rebanho ou o pianista amador, que detém um piano outrora pertencente a uma das assistentes de Lenine.
Os cruzeiros no Danúbio fazem passar ao largo da vila os endinheirados turistas, que podem pressentir a placidez, a simplicidade e as memórias associadas aquelas margens, mas sem sequer a contactarem…
E o documentário de Paounov e de Topouzova dá-nos um bom retrato do que são as periferias dos antigos países do Leste Europeu aonde a ocidentalização consumista não chegou e onde se vive a nostalgia de uma falsa utopia, que desabou de um dia para o outro com a queda do Muro de Berlim...

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