domingo, junho 17, 2007

«O ANO DO PENSAMENTO MÁGICO» de JOAN DIDION (2)

Primeiro: o sofrimento. Só depois o luto. É esta a experiência transmitida por Joan Didion na sua evocação dos meses subsequentes à morte de John Gregory Dunne, com quem estivera casada durante quase toda a sua vida adulta.
As preocupações não lhe dão oportunidade para se entregar à reflexão racional da sua provação. Sobretudo, porque os problemas de saúde da filha, Quintana, não lhe dão descanso. E, enquanto ela volta a estar nos Cuidados Intensivos de um hospital em Los Angeles, Joan só procura evitar cruzar-se com as casas e com as ruas aonde outrora fora feliz. Não é impunemente, que se regressa em tão dramáticas circunstâncias ao sítio aonde se vivera vinte e quatro anos.
Há a sensação de viver num limbo, aonde os gestos se sucedem, os pensamentos caóticos se entrecruzam, sem darem resposta à obsessão contínua de se perspectivar como se poderá continuar a viver na ausência de quem comparticipava numa forte cumplicidade afectiva.
Acaso fosse crente haveria sempre a esperança num qualquer além. Mas, no casal era John quem perfilhava as concepções próprias de um catolicismo meio-céptico.
Quando, enfim, a saúde de Quintana melhora, ela pode assumir duas atitudes opostas: a de culpa por ter agido desta ou daquela maneira, que tivesse alterado o desiderato da noite de 30 de Dezembro de 2003, mas também a de raiva por John Gregory não poder ilibar-se do abandono a que a sujeitou…

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