quinta-feira, junho 21, 2007

«Long Way Home de Peter Sollett (2002)

Foi uma descoberta curiosa esta relativa à primeira longa metragem de Peter Sollett.
Estamos no Verão, em pleno Lower East Side de Nova Iorque. Um mundo à parte em relação a uma urbe recém perturbada pelos ataques do 11 de Setembro e que, aqui, jamais surgem referenciados.
Victor tem 16 anos e uma intensa pressa em descobrir o amor. A vizinha, Donna, poderia ser uma alternativa, mas a sua obesidade extrema só ameaça torná-lo no objecto de troça de todo o bairro.
Pelo contrário Judy é muito bonita. Mas está demasiado ciosa dos seus afectos, recusando-se a qualquer compromisso com quem apenas a julga pelo palminho de cara.
Mas há mais personagens singulares: a avó de Victor, que cuida dele e dos outros dois netos com um conservadorismo fora de moda. Se a neta Vicki começa a interessar-se por rapazes e Nino, o mais novo dos irmãos se masturba amiúde na casa de banho só acontece pela má influência do primogénito. Daí que o queira expulsar de casa: a seu ver a única alternativa para contrariar uma incontornável evolução dos acontecimentos à sua volta.
A crítica, quer a norte-americana, quer a francesa, foi pródiga em elogios a Sollett, enquanto realizador de um emergente cinema independente influenciado claramente pelo Sundance Festival ou por John Cassavetes. Quanto mais não seja pelo talento com que recorre à câmara ao ombro, capaz assim de criar uma dinâmica original. Segundo o crítico Julien Welter , o seu olhar fotográfico sobre estes jovens nova-iorquinos pode evocar alguns títulos de Larry Clark, mas de uma forma mais suave e pudica.
Subsiste, porém, uma certa dureza da condição adolescente com as raparigas estigmatizadas enquanto objectos sexuais e os rapazes empurrados para a sua condição viril, articulada com um racismo latente para com as camadas populares.
A opção de Sollett pela rodagem junto da comunidade porto-riquenha em Nova Iorque resultou de terem sido actores latinos os mais convincentes durante as audições pré-produção. Mas, a coberto de um romance típico do cinema independente americano (orçamento reduzido, filmagens em exteriores) mostram-se algumas realidades desagradáveis.

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