quinta-feira, junho 21, 2007

«Coração de Urso», um filme de Arvo Iho

É decerto uma novidade: um filme estoniano de 2001, filmado nos gelos siberianos. Aonde dominam os ursos e a taiga abriga tantos animais, que corresponde a um paraíso para os caçadores.
Niika é um deles: conseguindo uma concessão, ele divide-se entre a aldeia aonde se apaixona pela jovem professora e a liberdade superlativa dos grandes espaços gelados.
A sua integração parece bem sucedida, quer entre os aldeões, quer entre os nómadas da taiga.
Um dia, na floresta, ele assiste à cópula de um urso gigantesco com uma fêmea. Atacado pelo macho, ele mata-o com o seu último tiro, sendo perseguido pela fêmea que, em vez de o morder, o trata com doçura.
No Inverno seguinte, quando já casado com Guitia, ele exaspera-se ao ver desarticuladas as suas armadilhas. Usando a inteligência ele captura quem o está a prejudicar: uma jovem esquimó, envolvida em pele de urso, e que ele recolhe na sua cabana, embora ela pareça semi-selvagem.
O seu casamento desfaz-se com a destruição da escola e com a partida de Guitia a quem ele recusa a seguir no regresso à civilização.
O seu encontro é com a taiga e com a estranha mulher a quem crisma de Emilie. É ela quem lhe dá um filho, com quem desaparece ao reassumir a sua personalidade efectiva: a de ursa. Que ele acaba por matar com um tiro certeiro.
Ele vegeta então no alcoolismo e na loucura até conseguir encontrar morto a própria sombra: um esquimó explica-lhe, então, que ele está purificado…
Trata-se, pois, de um filme estranho, que não se deixa abordar com facilidade tão distinto é o seu misticismo em paralelo com os nossos valores.
Niika acaba por ser um homem em busca de si mesmo, encontrando-se com o seu lado mais obscuro.
Talvez ajudasse o conhecimento do livro de Nikolai Baturin em que se baseia. Mas, para um espectador não iniciado nas lendas dessa região, há o encantamento de uma belíssima fotografia, que reproduz a magia desses lugares inóspitos em que radica a sua acção.

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