sábado, junho 16, 2007

«Família Rodante», um filme de Pablo Trapero

A família é um verdadeiro local de massacre, quando mingua o espaço para os seus integrantes respirarem.
Esta é a conclusão mais óbvia, que se retira de «A Família Rodante», filme do argentino Pablo Trapero, que passara no Festival Indie de 2005.
Tudo começa no 84º aniversário de uma anciã, Emília a quem telefonam da sua quase esquecida cidade natal, Missiones. De lá convidam-na para madrinha de uma prima, que está em vias de se casa.
Logicamente as filhas, os cunhados, os sobrinhos, os netos e até uma bisneta associam-se à viagem de mil quilómetros até à fronteira brasileira a bordo de uma caravana fabricada e conduzida pelo genro Óscar.
Se o veículo está decrépito deixando-os apeados mais de uma vez à beira da estrada, muito mais complicada é a relação entre os doze viajantes.
Há um genro, que assedia incessantemente a cunhada até quase a vergar ao seu desejo e se vê expulso da viagem pelo despeitado e quase traído condutor.
Dois dos dois netos da anciã, Gustavo e Yarina, trocam os primeiros beijos até quase chegarem à concretização dos seus mútuos desejos, apesar das reservas morais levantadas pelo quase incesto.
Há a neta já mãe de uma criança resultante de uma relação - condenada por Óscar - com um motoqueiro mais ou menos duvidoso quanto às drogas.
Acresce ainda Matias, um miúdo com meia dúzia de anos, que consegue enfiar um rafeiro abandonado no já apertado espaço em que viajam.
Nessa verdadeira odisseia rumo ao norte, eles vão olhando para as mudanças na paisagem, para as pessoas com quem se vão cruzando, mas sobretudo para o quanto eles próprios estão a mudar dentro de si próprios.
É uma sociedade moralmente conservadora a contas com as suas pulsões sexuais, que permanecem reprimidas nas mais profundas das suas convenções. Aquelas cujo epílogo se anuncia nos choros de arrependimento de alguns dos seus pecadores, ainda sem compreenderem como puseram em causa a sua integração dentro do precário equilíbrio de uma família muito mais disfuncional do que, a princípio, aparentava.

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