domingo, junho 17, 2007

Martin Scorcese e JR no «Metropolis»

Embora a nova fórmula do programa, ensaiada este ano, esteja longe do interesse despertado durante a longa gestão de Pierre André Boutang, o «Metropolis» ainda continua incontornável de entre a oferta de programa culturais acessíveis pela televisão por cabo.
O programa desta semana começou com uma reportagem a propósito da edição francês em DVD do filme mais recente de Martin Scorcese: «Os Infiltrados».
Na origem estava uma trilogia de filmes de Hong Kong com gangsters ultra violentos inspirados nos dos primeiros filmes do realizador.
Mas Scorcese reescreve a história com as idiossincrasias tipicamente americanas : polícias que se comportam como cowboys, gangsters virulentos, armas em todas as mãos e a palavra “fuck” em todas as bocas.
Por outro lado, Leonardo DiCaprio substituiu definitivamente Robert de Niro como actor fetiche do realizador. Ele já fora o emigrante esfomeado de Gangs of New York, nababo de Hollywood em o Aviator, e polícia infiltrado e sacrificado neste «Os Infiltrados»: todos símbolos do nascimento de uma nação, da sua idade de ouro e da sua decadência.
Com uma forte envergadura, um rosto tenso, pele avermelhada, ombros descaídos e mãos nos bolsos como se fosse o herói de Taxi Driver, ele torna-se no herói trágico, quase num émulo de Cristo atirado para o sacrifício, disposto a resistir a todos: aos polícias e aos gangsters num mundo onde a fronteira entre o Bem e o Mal se torna cada vez mais difícil de determinar.

Outra reportagem do programa desta semana foi sobre JR, um jovem fotógrafo francês, que quis responder a duas perguntas - o que é um israelita? O que é um palestiniano? - mediante a realização de um conjunto de retratos gigantescos, que colou nas paredes e muros de Hebron e de Ramallah.
Como antes já fizera em Nova Iorque, Berlim ou Paris.
Vendo esses retratos nas paredes, os israelitas e os palestinianos compreendem como é tão difícil distinguir-se entre si. Que os motivos de divisão acabam por parecer fúteis face aos que os pode unir.
A fotografia acaba, assim, por assumir uma função política assinalável.

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