Estou a assistir ao concerto que Klaus Makkela dirigiu à frente da Orquestra Sinfónica de Oslo e teve por sugestivo título "Viagens Memoráveis".
Pode-se viajar pela música com muitas obras da História da Música, e as que foram escolhidas para este em particular justificam-se plenamente no objetivo programático de quem o imaginou. Quer a Terceira Sinfonia de Mendelssohn, quer "Harold em Itália" de Berlioz convidam a que se feche os olhos e se fique a divagar pelas paisagens escocesas e italianas.
A Terceira Sinfonia de Mendelssohn, conhecida como "Escocesa", é a recordação de uma viagem que o próprio compositor fez na juventude. O primeiro impulso para a criar surgiu em 1829, aos 20 anos, durante a visita às ruínas da Capela de Holyrood, em Edimburgo. Fascinado pela atmosfera melancólica e pela história do local, Mendelssohn esboçou o tema inicial, mas a obra só viria a ser concluída mais de uma década depois.
A música projetada na sinfonia não é uma mera descrição topográfica, mas um retrato das impressões e sentimentos que o inspiraram. O fluxo contínuo entre os movimentos, sem interrupções, sugere uma caminhada ininterrupta por paisagens majestosas e nebulosas, de castelos antigos a ventos gelados, captando a essência do romantismo e da saudade de uma terra distante.
Por sua vez, "Harold em Itália", de Berlioz, nasceu de uma encomenda do violinista Niccolò Paganini. Contudo, o que se esperava ser um concerto virtuoso para viola, transformou-se numa "sinfonia dramática". Berlioz, que também tinha viajado pela Itália, decidiu que a obra não seria um mero espetáculo técnico, mas um retrato musical de um herói byroniano, Harold, encarnado pelo som da viola solo.
A música projetada na sinfonia é uma série de cenas de viagem que mostram Harold a observar o mundo com um olhar melancólico e sonhador. O público é convidado a testemunhar-lhe as emoções enquanto ele se depara com a alegria das serenatas locais, as preces dos peregrinos ou a vivacidade dos ladrões da montanha. A viola, representando Harold, nunca se sobrepõe à orquestra, mas convive com ela, como um viajante que se mistura com as paisagens e as pessoas que encontra.
Ambas as obras, embora nascidas de diferentes contextos criativos — uma de uma lembrança pessoal e a outra de uma encomenda que se transformou — revelam a capacidade da música de nos transportar. Elas transformam as paisagens em sentimentos e as viagens em narrativas, provando que o título "Viagens Memoráveis" é o mais adequado para este concerto, convidando a uma introspeção profunda e a uma experiência auditiva rica e evocativa.

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