sexta-feira, setembro 12, 2025

"Os Papéis do Inglês" de Sérgio Graciano (2024): paisagem sublime entregue a si mesma

 

Confesso que Sérgio Graciano nunca me suscitara particular apreço como realizador dos seus títulos anteriores. E, apesar dos enfáticos elogios de Paulo Branco, que produziu este seu mui acarinhado projeto, não fiquei impressionado com o filme. Mesmo com a pródiga paisagem africana e com atores que, esses sim, tenho apreciado nos seus percursos anteriores. Ou com a colaboração de José Eduardo Agualusa enquanto argumentista.

"Os Papéis do Inglês" padece, desde logo, de uma ambição desmesurada que não consegue sustentar ao longo da sua duração. A adaptação da trilogia "Os Filhos de Próspero", de Ruy Duarte de Carvalho, revela-se tarefa hercúlea que o realizador aborda de forma demasiado reverencial, como se o peso literário da obra original bastasse para conferir densidade cinematográfica à narrativa.

O filme navega entre tempos e memórias - o mistério de 1923 no deserto do Namibe, a busca contemporânea pelos papéis deixados pelo pai do escritor - mas fá-lo de modo fragmentário e por vezes confuso. Graciano opta por uma linguagem contemplativa que, se por um lado honra a natureza introspetiva da obra de Carvalho, por outro resulta numa experiência cinematográfica que se arrasta, perdendo o espetador em divagações que nem sempre encontram resolução satisfatória.

As vastas paisagens angolanas, filmadas com evidente cuidado estético, acabam por funcionar mais como postal turístico do que como elemento dramático integrado na narrativa. Há uma desconexão palpável entre a grandeza visual do cenário e a intimidade da história que se pretende contar, como se o realizador não soubesse bem como articular estes dois registos.

Os atores, veteranos competentes do cinema português, fazem o que podem com um material que os limita. As interpretações, embora profissionais, ressentem-se de um argumento que privilegia a contemplação sobre a ação, resultando em personagens que permanecem demasiado distantes do público.

Agualusa, enquanto argumentista, tenta preservar a essência literária do original, mas o resultado é um filme que funciona melhor enquanto homenagem do que enquanto obra cinematográfica autónoma. Falta-lhe o ímpeto narrativo necessário para transformar reflexão em cinema verdadeiramente envolvente.

"Os Papéis do Inglês" é, em suma, um projeto bem-intencionado que não consegue transcender as limitações. Fica a sensação de que estamos perante mais um caso em que a nobreza das intenções não se traduz na eficácia do resultado final. 

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