sábado, julho 30, 2016

(V) Não há bem que sempre dure

E isso ajusta-se a «Penny Dreadful», cuja produção foi dada por terminada ao fim de três temporadas, apesar de ter sido concebida a partir do rico alfobre dos romances fantásticos da Inglaterra do século XIX.
Acaso John Logan, o criador da série, pudesse prosseguir com o seu projeto, optaria muito provavelmente por associar ao seu universo o que Lovecraft criou na primeira metade do séc. XX nos Estados Unidos. Porque o que esteve em causa nos vinte sete episódios foi a mítica luta entre o Bem e o Mal, de acordo com a vulgata católica. Não é por acaso que na cena crucial o derradeiro episódio, tudo se resolve com um «Padre Nosso«-
Tal como Nina na primeira temporada, Vanessa Ives sucumbe à atração das criaturas da noite, embora consiga dar-se ao sacrifício redentor, quando o Amor lhe surge como alternativa solar à anterior aceitação do abismo.
Nesse sentido uma continuação dispensaria o desempenho de Eva Green, que foi  um dos rostos mais expressivos de toda a série. Mas talvez reencontrássemos Dorian Gray a contas com a imortal solidão  numa casa enorme cheia de retratos, ou Victor Frankenstein, porventura mais cauteloso perante a possibilidade de ressuscitar quem já morreu. Também Jekyll, subitamente investido na condição de Lord Hyde,  ou essa Drª Seward, cujas práticas psiquiátricas envolvendo hipnose tanto contribuíram para a resolução definitiva da intriga. Mas os mais prováveis protagonistas de uma quarta temporada, de que nos vimos privados, seriam sempre Sir Malcolm, enfim liberto dos seus fantasmas familiares, Ethan porventura mais capacitado para controlar os ímpetos revelados nas noites de Lua Cheia ou a audaz Catriona, que foi aqui induzida para substituir Vanessa como principal papel feminino.
Haveria, igualmente, a curiosidade por quanto viria a suceder com as criaturas concebidas por Frankenstein: quer Lily, quer Caliban, conseguiriam resgatar das vidas passadas a tal alma de que se tinham sentido despojados? Nunca o saberemos, mas fica-nos a recordação de uma das séries mais bem concebidas e desenvolvidas dos últimos anos tendo por tema os do género fantástico.

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