quarta-feira, julho 27, 2016

(L) «O Chão Salgado» de Isabel Barreno

Graça anda às voltas com a criação de um romance, em que as personagens femininas têm nomes começados pela letra g - Gracinda, Gabriela - e os masculinos por v a exemplo do marido Vítor - Valentim, Vicente.
Uma ida ao hospital com o filho adolescente leva-a a imaginar um estivador subitamente encontrado inconsciente numa rua junto ao porto e levado para o hospital. Aí, acossado por ideias paranoicas, e ajudado pela devotadíssima mulher, foge antes de lhe darem alta. Valentim julga-se perseguido por poderoso inimigo, que encontra aliados em todos quantos o rodeiam para melhor o controlar.
Quando Graça interrompe a história, Valentim e Graziela tinham encontrado abrigo num monumento em ruínas, cujos recuados proprietários haviam sido condenados à morte por traição. E aquele chão árido fora coberto de sal para nele nada mais frutificar.
Discutindo com amigos esta fase do romance, Graça reconhece que o marido da porteira era estivador, o que explicaria a escolha do seu personagem. Já o segundo par de personagens provem de outras influências: Gabriela é uma quinquagenária, que decidiu mudar-se da cidade para uma pequena vila à beira-mar e aí se enamora de um vizinho bem mais novo, que além de jornalista, fundara um pequeno partido político cujo programa é honrar os compromissos emitidos.
Há o fantasma do envelhecimento  e do correspondente desinteresse sexual a par de uma explicita crítica à «política politiqueira».
Mas, por essa altura, anda também Graça preocupada com a possibilidade de, através dos seus pensamentos, influir na realidade, mormente interrogando-se se o desfalecimento de Valentim no início do seu romance não prenunciou, (e até causou?) a crise epilética que lhe leva o filho ao hospital.
Vencidas as primeiras sessenta páginas do romance, ele é decididamente uma abordagem da conceção da obra e das influências nela implementadas pelos acontecimentos e pensamentos de quem a concebe.


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