segunda-feira, julho 25, 2016

(V) «A Maldição dos Mortos Vivos» de Wes Craven

As singularidades deste filme começam logo no título, que em português ganhou ressonâncias óbvias para os filmes de zombies, mas ao qual Wes Craven deu um título original completamente diferente, quando o rodou em 1988: «The Serpent and the Rainbow». Quem julga tratar-se de mais um daqueles filmes em que um conjunto de pessoas cercado por monstros saídos das sepulturas vai-se reduzindo progressivamente até ao momento decisivo em que, ou morrem, ou sobrevivem, consoante a má ou boa vontade da produção, sai redondamente enganado.
Aqui estamos no Haiti, durante a ditadura dos Duvalier, quando os Tonton Macoute cerceavam o desejo de liberdade e de democracia com o capitão Peytraud a ser um dos seus mais sinistros líderes por conjugar a tortura e o assassinato dos opositores com a magia negra, que deles lhe garantia o controle das almas.
Depois de uma experiência dramática na Bacia do Amazonas donde só conseguiu livrar-se depois de uma perigosíssima travessia da floresta e dos rios, o Dr. Dennis Alan da Universidade de Harvard é contratado por uma empresa farmacêutica para dirigir-se a Port-au-Prince e comprar um misterioso pó-branco, que teria a capacidade de devolver a vida - ou pelo menos uma certa aparência dela - aos que já tinham sido mortos e enterrados.
Bill Pullman desempenha esse papel, contracenando com Cathy Tyson, que personifica a bela psiquiatra Marielle, seu  apoio nessa missão.
Nos dias seguintes ele vai aprendendo à custa de experiências à beira do inacreditável, quais os fundamentos das práticas vudu. O seu racionalismo científico vai sendo sujeito a rudes provas com sucessivas manifestações inexplicáveis. Por duas vezes é preso por Peytraud, que o insta a partir da ilha, mas Dennis sente-se não só condicionado pelo compromisso para quem lhe pagara a viagem, mas também pela proximidade cada vez mais óbvia com Marielle.
Conseguindo o pó, que logo começa a ser objeto de análise pela empresa farmacêutica que o contratara, ele regressa aos EUA, mas nem mesmo aí escapa aos atentados encomendados pelo sicário da ditadura. Razão para regressar ao Haiti decidido a derrotar o inimigo. Mas, caindo numa sua armadilha vê-se declarado morto e enterrado vivo, testemunhando o seu próprio martírio segundo a segundo.
Felizmente outros morto-vivo, que ele próprio interrogara, liberta-o do esquife no momento em que Baby Doc foge para Miami, o povo exulta nas ruas, mas Peytraud ainda quer praticar alguns dos seus malefícios. Num combate assanhado com muita presença do sobrenatural, Dennis derrota o inimigo. O dia seguinte anuncia-se sob os melhores auspícios para ele, Marielle e a maioria do povo haitiano.
De uma forma muito imaginativa, Wes Craven foi bem explicito no posicionamento político com a magia negra da ditadura a constituir metáfora óbvia ao capitalismo e com os efeitos especiais a terem a credibilidade bastante para a  verosimilhança da história não ser posta em causa enquanto a vemos.

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