sexta-feira, julho 29, 2016

(L) O que nunca se saberá (1)

Na edição de julho da «Science et Vie» o tema de capa é o que a Ciência nunca conseguirá descobrir. O que não corresponde a uma admissão de derrota perante questões absolutas, mas o estímulo para nelas encontrar aproximações sucessivas de respostas.
No dossiê o primeiro limite enunciado é o cognitivo: por muitos exames que se façam à atividade cerebral de alguém nunca se conseguirá concluir se ama efetivamente quem diz amar. Ou seja, o que é “sentido” não se pode traduzir em medições quantitativas dos estímulos detetados em áreas específicas do cérebro. Até por essas medições, mesmo quando idênticas em indivíduos distintos, correspondem a gradações diferentes das tais “sensações”.
O segundo limite é o da lógica e tem a ver com o teorema de Goddel, que defende a possibilidade de existência de contradição no principio matemático tido como mais axiomático. Por exemplo, no limite nunca conseguiremos ter a certeza de que 1 + 1 = 2, pois trata-se de algo semelhante ao paradoxo do cretense: serei um mentiroso quando digo que estou a mentir?
O terceiro limite abordado no texto está ligado às medidas e aos erros que elas provocam: podemos prever as condições meteorológicas com alguma fiabilidade para o período de alguns dias, mas nunca para além disso por se irem somando todas as influências, que tendem a conduzir um sistema ordenado para o caos.
É por isso que os astrónomos não poderão imaginar a posição dos planetas daqui a 60 milhões de anos, porque bastam as interações entre dois asteroides da respetiva Cintura, Céres e Vesta - para o posicionamento de Marte se alterar, e com ele todos os demais parceiros em rotação em torno do Sol.
Outro limite indesvendável para a Ciência é o do nosso antepassado universal, ou seja, dessa célula aventada por Darwin em 1859, que teria estado na origem de todos os seres vivos. Surgida provavelmente há 3,5 mil milhões de anos, recebeu o nome de Luca: Lost Universal Common Ancestor.
Tendo em conta que a árvore filogenética de todos os seres é uma rede inexpugnável de raízes e sem conduzirem a um tronco comum, esse objetivo revela-se inalcançável.
Há ainda a considerar o limite intelectual da Ciência: nunca se compreenderão que ultrapassa o nosso entendimento. Isso significa que as nossas capacidades cerebrais nunca conseguirão equivaler-se às da Inteligência Artificial apesar de, por agora, ela consistir apenas em operações de cálculo sem as capacidades da analogia, que delas nos distinguem enquanto seres humanos
Mas, mesmo que os avanços nesse sentido não produzam resultados permanentes, há quem avance os riscos delas tornarem-se tão aceleradas nos seus cálculos, que os seus conceitos de tempo se alarguem o bastante para só se tornarem compreensíveis noutra realidade espaço-tempo, que não a nossa...

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