Em 1965 foi este o filme estrangeiro a merecer o Óscar da Academia de Hollywood, apesar de ter estreado dois anos antes.
Sophia Loren estava, então, no auge da carreira e Marcello Mastroianni ia consolidando a reputação de actor vocacionado para papéis de amante latino, pelo que o projecto produzido por Carlo Ponti tinha todas as condições para ser um grande êxito de bilheteira.
Porém, quase quarenta anos passados, o filme já envelheceu, à medida da mudança operada nos valores, que justificavam alguma sedução maliciosa. Nomeadamente quanto ao que fundamentava o primeiro dos três episódios, que o constituíam e baseado numa ideia de Eduardo de Filippo: a sexualidade exigente da protagonista, que obriga o marido a refugiar-se na casa materna (e o que as «mammas» italianas tanto invocaram!) para descansar dos fulgores conjugais da sua fogosa Adelina.
Na origem da história, De Filippo tivera em conta o episódio verídico da contrabandista de tabaco Concetta Muccardi que, baseando-se numa lei impeditiva de levar para a prisão uma mulher grávida, decide evitá-la fazendo dessa condição o seu estado normal. Terá assim sete filhos, que é aonde Adelina chegará até o extenuado Carmine manifestar a sua definitiva incompetência, sujeitando-a enfim ao cárcere.
Nessa altura De Filippo consegue concluir o episódio de uma forma inteligente, pois faz com que o povo de Furcella se quotize para pagar a multa e liberte a prisioneira dando um bom exemplo de solidariedade popular.
Se o primeiro episódio era passado em Nápoles e acentuava o lado popular da sociedade italiana, o segundo vira-se para o norte industrial, em cuja capital, Milão, Alberto Moravia imagina um exemplo lapidar da existência de classes sociais. Anna é a mulher de um endinheirado empresário, que lhe possibilita a aquisição de vistoso descapotável.
Nada mais natural do que ir estreá-lo na companhia do jovem amante, um escritor sem posses pouco convencido das potencialidades daquela relação tão desigual. Mas a caprichosa Anna nem o quer ouvir e até o obriga a conduzir o carro, o que terá consequência desastrosa: distraído ele despista-se e causa-lhe mossas na imaculada carroçaria.
Tanto basta para Anna o desprezar violentamente, evidenciando os limites de um breve namoro em que só estava presente a mera satisfação da sua fantasia.
A concluir temos um episódio, baseado numa história de Cesare Zavattini e situada em Roma, com uma prostituta a descobrir-se vizinha de um jovem seminarista tão atraído por ela, que se dispõe a abandonar a ambígua vocação. Com Mastroianni a interpretar o papel de um dos clientes, que nunca consegue chegar à cama, porque sempre sucede algo disso impeditivo. Embora esteja aqui a conhecida cena do strip tease, que Robert Altman glosará, décadas depois, no seu Prêt-à-porter, quando abordou o envelhecimento dos antigos amantes.
O filme vê-se ainda com agrado, mas como objecto museológico característico de um tempo definitivamente ultrapassado.
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