sábado, outubro 15, 2011

Filme: O ÚLTIMO VOO DO FLAMINGO de João Ribeiro

Tizangara, Moçambique, em 1994. Ou seja quando, derrubado o muro de Berlim, deixaram de ter sentido expressões do tipo «viva o proletariado internacional».
Massimo Ricci é incumbido pelas Nações Unidas de investigar as razões porque tinham desaparecido em explosões seis capacetes azuis ali instalados para assegurarem o cumprimento da paz entre a Frelimo e os bandidos armados da Renamo. Do mais recente morto sobrara o seu pénis erecto a emergir da terra debaixo de frondosa árvore.
Acompanhado de Joaquim, seu intérprete, o italiano tem pressa em conduzir a investigação até à desejada conclusão e sem se intrometer nas idiossincrasias locais. Não o impressionam as crenças desse mesmo Joaquim, que lhe chega a dizer que não é pelo facto de não falarem, que os mortos não os deixarão porventura de ouvir. Trata-se, pois, de terra aonde se respeitam os mortos para além do que ele está habituado.
Mas é pelas mulheres, que Massimo começa a ver a realidade a modificar-se, nomeadamente quando se relaciona com a estranha Temporina, que tanto parece uma velha, como logo se transforma na rapariga de vinte anos com quem aprende a levitar.
Para Estêvão Jonas, administrador da aldeia, existe tal urgência em ver-se livre de Massimo, que arranja um padre como confesso culpado das mortes. Mas, azar o seu, o suspeito estava preso, quando explode a sétima vítima.
É pelo proscrito pai de Joaquim, que Massimo descobre a verdade: para manter intocado o seu poder político, Jonas voltara a disseminar minas pela região argumentando com o estado de emergência suscitado pela guerra a necessidade de preservar o seu corrupto exercício do poder.
Desmascarado ele ainda tenta fazer explodir a barragem para inundar definitivamente a aldeia, mas acaba por ver desarticulado tal plano.
É altura de happy end: Massimo volta a voar com Temporina e o pai de Joaquim regressa a casa…
Embora os romances de Mia Couto sejam muito mais eloquentes na forma escrita do que na sua tradução em imagens cinematográficas, o filme de João Ribeiro constitui uma boa forma de recordar a imaginação do grande escritor moçambicano.


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